sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A QUESTÃO DO SETOR DA MINERAÇÃO NO BRASIL...

TANTO BATE ATÉ QUE SANGRA

Por  | Mexidão – qui, 14 de nov de 2013
Parece que tudo está acontecendo ao mesmo tempo nesse louco 2013, ano-palco de uma impressionante série de movimentações que terão impactos profundos no futuro do país (pro bem e pro mal). Falei recentemente do Marco Civil da Internet no texto “Por uma liberdade semi-impossível” e agora o nó da vez é o Novo Código de Mineração Brasileiro, que está para ser votado e é outro assunto complexo que coloca movimentos sociais de um lado e poderosos interesses financeiros do outro.
Em termos gerais o que está prestes a ser aprovado é um código que mantém as coisas como antes (as mineradoras fazem o que bem entendem e passam por cima de todos), mas com o governo federal ganhando mais dinheiro com isso.
Serra Pelada, Pará, 1981 [foto de Rudi Böhm]
Bem, se existe muita grana em jogo, a batalha é obviamente desigual. Ainda mais quando parte do Congresso tem ligações íntimas com mineradoras. Por exemplo, o relator do Novo Código de Mineração é o deputado federal Leonardo Quintão (PMDB-MG) e 20% de sua campanha partiu das mineradoras. Quintão é próximo a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que teve 70% de sua campanha financiada por empresas ligadas ao setor e, por outro lado, é o principal amigo das teles na questão do Marco Civil. Tutti buona gente, sacumé?
Já o senador Edison Lobão Filho (PMDB-MA), membro não-oficial da Frente Parlamentar da Mineração Brasileira, é dono de uma empresa de mineração (Vale do Sol) e filho, como o próprio nome sugere, de Edison Lobão, simplesmente o ministro das Minas e Energia. Outro senador, Romero Jucá (PMDB-RR), é autor de um projeto de lei que autoriza mineração em terras indígenas e é acusado pela Procuradoria Geral da República de beneficiar a Vale S/A, a maior mineradora do Brasil e a segunda do mundo. Seu caso está no STF. Esses e outros parlamentares são citados na excelente reportagem “Teia de interesses liga políticos a mineradoras em debate sobre novo código”, de Alceu Luís Castilho para a Agência Pública.
A Vale S/A, aliás, é a principal protagonista e vilã de Enquanto o Trem Não Passa, impressionante curta documental feito pela Mídia Ninja que dá voz aos atingidos pela devastação causada pela predadora indústria mineradora nos estados do Maranhão, Pará e Minas Gerais. Saca só.
É impressionante a estupidez dessa turma que destrói a vida de milhares de pessoas e nossos próprios recursos hídrico-minerais em troca do, perdoem o trocadilho, vil metal. Em entrevista ao Blog do Planeta, o advogado Márcio Pereira, especialista em legislação ambiental, toca justamente na perigosa lacuna do Novo Código de Mineração que manterá esse faroeste: “Em termos ambientais, o governo não avançou nada. Não estabeleceu nenhuma regra específica para a área de mineração, sendo que hoje um dos principais gargalos da área de mineração é a questão ambiental. O minério pode estar em áreas remotas, em áreas sensíveis do ponto de vista ecológico ou social”.
Tenho certeza que nenhum ativista e nem as muitas populações afetadas por essas obras gigantescas (e potencialmente nocivas em termos sócio-ambientais), muito menos este que vos escreve, sejam contra o tal “progresso”. Mas que ele seja para as pessoas e não para alguns políticos e empresas (e quando digo “empresas” quero dizer “donos e acionistas de empresas” porque trabalhadores nunca levam nenhuma fatia desse bolo). E que essa importante fonte de riqueza nacional seja extraída de forma responsável. Não é difícil fazer a coisa certa, basta querer e pressionar para que isso aconteça. O que não dá mais é para deixar lobões, lobos e lobinhos cuidando desse nosso belo e confuso galinheiro.
p.s.: Para saber quem mais está de rabo preso com as mineradoras – que só perdem para as construtoras entre as empresas que mais doam dinheiro para campanhas – é bom dar uma olhada no estudo “Quem é quem nas discussões do Novo Código de Mineração”, de Clarissa Reis Oliveira, pesquisadora do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas).

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

SERÁ QUE O BRASIL QUE É UM DOS PAÍSES COM MAIORES ÍNDICES DE RADIAÇÃO SOLAR E VENTOS OCUPANDO O TOPO DESTA LISTA PRECISA DE ENERGIA HIDROELÉTRICA?

Especial Atingidos por Barragens: A expansão hidrelétrica e o modelo de desenvolvimento

Por CombateRacismoAmbiental, 01/11/2013 16:20

Energia: Conforme os dados anunciados pelo governo no final do ano passado, a meta é construir 34 hidrelétricas na próxima década

Gilberto Cervinski e Guilherme Weimann, Brasil de Fato, no MAB

Conforme o “Plano Decenal de Expansão de Energia 2021”, o Governo prevê a construção de 34 hidrelétricas nos próximos 10 anos, sendo que 15 serão nos rios da Amazônia (86,5% da potência). Seguindo a atual política de tratamento, milhares de famílias serão expulsas sem receber seus direitos.
Desde a falta de abastecimento de energia elétrica em 2001, conhecida como “apagão”, houve um esforço crescente de convencer a população da necessidade de construção de hidrelétricas para suprir o consumo.
Entre 2004 e 2012, o potencial hidrelétrico instalado subiu de 90 GW para 120 GW, um crescimento de 30% na geração de energia. Conforme os dados anunciados pelo governo no final do ano passado, a meta é construir 34 hidrelétricas na próxima década.
Atualmente, 15 usinas hidrelétricas (UHEs) se encontram em construção no país, somando cerca de 22.00 MW de potência. Outras 19 UHEs, que somam 19.700 MW, estão na lista para serem leiloadas.
Também serão construídas dezenas de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), usinas hidrelétricas de pequeno porte, que poderão acrescentar mais 2.500 MW de potência até o ano de 2021. Além disso, outras 29 UHEs, com potencial de 8.900 MW, estão em “estudo de viabilidade” e também poderão entrar nos planos de leilões.
Entretanto, diversos especialistas, organizações e movimentos sociais ligados à energia contestam essa política de geração voltada para atender os interesses dos grandes consumidores eletrointensivos, exportadores de produtos de matéria prima.
Em 2009, segundo o professor da USP, Célio Bermann, cerca de 30% da energia elétrica produzida no país foi consumida por seis ramos de grandes consumidores industriais – cimento, ferro-gusa e aço (siderurgia), ferro ligas, não ferrosos (alumínio), química, papel e celulose.
São produtos que se utilizam de muita energia, geram um grande impacto social e ambiental, não agregam valor e são destinados à exportação.
O questionamento fundamental sobre as usinas tem sido “para que? e para quem?”. Já que, na atual forma de organização da política energética percebe-se que por trás estão grandes empresas mundiais de máquinas e equipamentos, construtoras, empresas de energia e grandes consumidores industriais eletrointensivos, que lucram com a construção das usinas, com a venda da energia e com a exportação de eletrointensivos.
População atingida poderá chegar a 250 mil
O governo estima que apenas 62 mil pessoas serão diretamente afetadas pela totalidade dos projetos, mas estes dados são contestáveis. Somente em duas hidrelétricas que fazem parte destes planos, nas usinas de Belo Monte e no projeto de Marabá, são mais de 60 mil pessoas atingidas.
O próprio governo, até hoje, não possui nenhum cadastro ou levantamento preciso do número da população atingida por todas estas usinas. Nas já construídas, a realidade mostra que o número real de atingidos chega a ser quatro vezes maior da estimativa do governo.
Essas práticas tem sido constantes e serve para a negação dos direitos dos atingidos pelas empresas. A ausência de informações mais precisas por parte do governo sobre as populações que serão vítimas das usinas é a primeira demonstração das violações de direitos que ali serão cometidos posteriormente.
Área alagada
A área alagada pelos novos projetos está estimada em 6.456 Km², ou seja, 645 mil hectares. A área é 10% maior que todo território do Distrito Federal. No entanto, este cálculo pode estar subdimensionado.

Com a crise econômica mundial, na busca por maiores lucros, as corporações transnacionais estão se movimentando para retomar a construção de usinas com grandes lagos, as chamadas “usinas de acumulação”. Se o governo ceder ao lobby dos empresários, os problemas sociais e ambientais se multiplicarão.