domingo, 21 de dezembro de 2014

COMO O BRASIL PODE COOPERAR COM REDUÇÃO DE CO2...

OP-20: Energia e agropecuária são setores-chave para Brasil reduzir emissões

O Brasil terá que focar nos setores de energia e agropecuária para reduzir a emissão de gases poluentes que causam o efeito estufa, segundo especialistas ouvidos pela Agência Brasil. Os dois setores são responsáveis pelo crescimento da emissão desses gases e, para que haja mudança significativa, deverão ser priorizados no compromisso que será elaborado pelo país, seguindo o que foi acordado na Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas (COP-20), que terminou neste final de semana, em Lima, no Peru.
A COP-20 aprovou o rascunho de um acordo de redução de emissões de gases de efeito estufa, que deve ser a base para um pacto global histórico no próximo ano, em Paris. O projeto foi delineado por delegados de 195 países, que devem anunciar, nos próximos meses, seus compromissos para reduzir as emissões globais entre 40% e 70% até 2050, com a necessidade de limitar o aumento da temperatura global a 2 graus Celsius (2ºC).
“A redução do desmatamento foi muito significativa nos últimos dez anos, o problema deixa de ser o desmatamento e passa a ser agricultura e energia. O Brasil terá que pensar nisso”, diz o secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Luiz Pinguelli Rosa, diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ).
No ano passado, o Brasil emitiu cerca de 1,5 milhão de toneladas de dióxido de carbono equivalente, o que representa aumento de 7,8% em relação a 2012 e o maior valor registrado desde 2008. O setor de mudança de uso do solo corresponde a 35% do total das emissões. O setor de energia responde por 30% das emissões totais, seguido pelo setor agropecuário (27%), o industrial (6%) e o setor de resíduos (3%). Os números são do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de efeito estufa (SEEG), iniciativa do Observatório do Clima.
O SEEG aponta o incremento no uso de energia termoelétrica de fontes fósseis e do consumo de gasolina e diesel como um dos principais responsáveis pela reversão da tendência da última década. Para o coordenador de mudanças climáticas e energia da organização não governamental WWF-Brasil, André Nahur, a questão é preocupante por serem, estas formas de geração de energia, umas das principais plataformas de desenvolvimento adotadas pelo país. “Para que mudanças sejam implementadas é preciso vontade política de explorar energia eólica, solar. O que tem é um entrave político de resoluções que criam dificuldade para que esse tipo de energia consiga crescer bastante”, diz.
Para Luiz Pinguelli e André Nahur, o documento aprovado é uma avanço no que diz respeito à necessidade de todos os países participarem do esforço de redução da emissão de gases que causam o aquecimento do planeta. Os planos de redução serão diferenciados, já que os países desenvolvidos têm responsabilidade histórica pela poluição. No entanto, a questão do financiamento dos países mais ricos para ajudar os países em desenvolvimento deixou a desejar. No relatório final, consta que o montante a ser destinado à ajuda é facultativo.
“Chegou-se a um acordo, é um avanço importante, mas deixa um grande caminho a ser percorrido no ano que vem”, avalia Nahur. “Um dos princípios da convenção é que os países desenvolvidos têm responsabilidade histórica e, portanto, devem ajudar financeiramente os países em desenvolvimento a reduzir as emissões e se adaptarem às mudanças climáticas. É um tema importante que acabou não sendo contemplado plenamente no documento final”, acrescenta.
“Foi um avanço que prepara o caminho para Paris, mas a convenção avança lentamente, mas pode melhorar. Continuamos correndo atrás do limite de aumento de temperatura de 2ºC e isso não está resolvido”, diz Pinguelli. 
Fonte: Agência Brasil/Ambientebrasil

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

SINAIS DE RADIAÇÃO DA USINA JAPONESA DE FUKUSHIMA CHEGAM À COSTA DA CALIFÓRNIA

Terremoto e tsunami em Fukushima afetaram a central nuclear em 2011
Foto: Forbes.com


O acidente radioativo que aconteceu em 2011 em Fukushima, no Japão, ainda causa consequências à região. No entanto, aparentemente, chegou a hora dos EUA começarem a se preocupar com tal radiação, que pode estar alcançando a costa da Flórida, por meio do Oceano Pacífico. As informações são do blog IFL Science.
Segundo a publicação, baixos níveis de césio radioativo foram localizados nas águas da região da Califórnia. Apesar de pequena, a contaminação pode causar alguns danos à fauna e à flora do local. No entanto, o nível ainda não é preocupante.
"Mesmo se alguém passar um ano nadando nas águas da Califórnia, a dose de radiação ainda será mil vezes menor que aquela a qual estamos submetidos no dentista, por exemplo", diz Ken Buesseler, um químico marinho que estuda o caso.
Mas Buesseler alerta que o caso demanda cuidados do governo americano, pois o nível de radiação pode aumentar, se acumulando. "É preciso o acompanhamento dessa contaminação radioativa", afirma.
De acordo com as pesquisas, não foram encontrados sinais de radiação nas praias dos Estados Unidos ou do Canadá, sendo que a contaminação na região da Califórnia acontece no mar aberto, longe do alcance de banhistas.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A ÁGUA DOCE CONTINUA DIMINUINDO NO BRASIL...

Nível de água dos principais reservatórios do país é o mais baixo desde 2001

A falta de chuvas dos últimos meses fez com que o volume de água dos reservatórios das usinas hidrelétricas que operam nas regiões Sudeste e Centro-Oeste atingisse na terça-feira (21) o nível mais baixo desde 2001, ano em que o país foi obrigado a adotar o racionamento de energia. Fontes de abastecimento hídrico das principais usinas geradoras de eletricidade do país, os reservatórios atingiram, segundo o Operador Nacional do Sistema (ONS), 20,93% de sua capacidade máxima nessa terça-feira. Na mesma data de outubro de 2001, o volume registrado atingia 21,39% do limite máximo.
Há duas semanas, a ONS divulgou uma projeção apontando que, caso a estimativa de chuvas para os próximos dias se confirme, o nível dos reservatórios do Subsistema Sudeste/Centro-Oeste continuará caindo e chegará, em 31 de outubro, a apenas 19,9% da capacidade máxima, o mais baixo percentual registrado desde 2000.
Nas duas regiões, as chuvas dos últimos dias foram insuficientes para alterar esse quadro. Nos reservatórios de Ilha Solteira e de Três Irmãos, no noroeste paulista, os níveis de armazenamento chegaram a zero – o que não significa que o rio tenha secado ou que as usinas tenham deixado de operar, embora o façam com restrições.
A situação é preocupante também na Região Nordeste. Na média, os reservatórios operavam, ontem, com apenas 17,5% de sua capacidade máxima. Abastecida pelas águas do Rio São Francisco, o reservatório da Usina de Sobradinho (BA) armazenava apenas 23,7% de seu limite máximo. Já as usinas de Luiz Gonzaga (BA/PE) e de Três Marias (MG) tinham, respectivamente, 17,7% e 3,5% da capacidade de armazenamento.
Repetidas vezes, autoridades do governo federal afirmaram que não há risco de desabastecimento de energia, pois o Sistema Interligado Nacional é “estruturalmente equilibrado” e “dispõe das condições para garantir o abastecimento nacional”, conforme nota divulgada pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico, em setembro. Uma das medidas adotadas para compensar a eventual queda de geração das usinas hidrelétricas, complementando-a, é o acionamento das usinas térmicas – mais caras. 
Fonte: Agência Brasil/Ambientebrasil
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sexta-feira, 10 de outubro de 2014

MUDANÇAS CLIMÁTICAS CAUSA ACIDIFICAÇÃO DOS OCEANOS...

Acidificação dos oceanos cresce 26% nos últimos 200 anos, diz relatório

O pH dos oceanos aumentou 26% em média nos últimos 200 anos, ao absorver mais de um quarto das emissões de CO2 geradas pela atividade humana, adverte um relatório publicado nesta quarta-feira (8), em Seul.
Pesquisadores ligados à Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB) analisaram centenas de estudos existentes sobre este fenômeno para redigir o documento que apresentaram em Pyeongchang (Coreia) por ocasião da 12ª reunião da convenção das Nações Unidas sobre a proteção da biodiversidade.
O relatório destaca a gravidade do fenômeno, que apresenta uma rapidez sem precedentes e um impacto muito variado, que seguirá aumentando nas próximas décadas. “É inevitável que entre 50 e 100 anos as emissões antropogênicas de dióxido de carbono elevem a acidez dos oceanos a níveis que terão um impacto enorme, quase sempre negativo, sobre os organismos marinhos e os ecossistemas, assim como sobre os bens e serviços que proporcionam”, destacam os cientistas.
A acidez dos oceanos varia naturalmente ao longo do dia, das estações, do local e da região, mas também em função da profundidade da água. “Os ecossistemas das costas sofrem uma maior variabilidade do que os que estão em alto mar”, destacam os pesquisadores.
Alguns trabalhos revelam que a fertilização de certas espécies é muito sensível à acidificação dos oceanos, enquanto outras são mais tolerantes.
Os corais, moluscos e equinodermos (estrelas do mar, ouriços e pepinos do mar, por exemplo) estão particularmente afetados por esta mudança, que reduz seu ritmo de crescimento e sua taxa de sobrevivência, mas algumas algas e microalgas podem se beneficiar, do mesmo modo que alguns tipos de fitoplânctons.
O relatório destaca o impacto sócio-econômico já visível em algumas regiões do mundo: na aquicultura do noroeste dos Estados Unidos e na criação de ostras.
Os riscos para as barreiras de coral nas zonas tropicais também são uma “enorme preocupação, já que envolvem a subsistência de 100 milhões de pessoas, que dependem destes habitats”.

Segundo os pesquisadores, “apenas a redução das emissões de CO2 permitirá deter o problema”. 
Fonte: G1/Ambientebrasil

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

PELA PRIMEIRA VEZ EM 514 ANOS DE HISTÓRIA DO BRASIL A NASCENTE DO RIO SÃO FRANCISCO SECOU! E AINDA TEM GENTE QUE NÃO ACREDITA EM MUDANÇAS CLIMÁTICAS E NOS SEUS EFEITOS QUE ESTAMOS JÁ VIVENDO...

Nascente do Rio São Francisco secou

Sugestão de Carlos Alberto Cândido
do G1
'Nunca vi essa situação em toda a história', afirmou Luiz Arthur Castanheira.
Bacia abrange 5 estados; biodiversidade está ameaçada, diz especialista.
Caroline Aleixo e Carolina Portilho * Do G1 Centro-Oeste de Minas
 
O diretor do Parque Nacional da Serra da Canastra, Luiz Arthur Castanheira, disse em entrevista ao G1 na tarde desta terça-feira (23) que a nascente do Rio São Francisco, situada em São Roque de Minas, secou. Segundo Castanheira, essa nascente é a principal de toda a extensão do rio, que tem 2.700 km. O São Francisco é o maior rio totalmente brasileiro, e sua bacia hidrográfica abrange 504 municípios de sete unidades da federação – Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Goiás e Distrito Federal. Ele nasce na Serra da Canastra, em Minas, e desemboca no Oceano Atlântico na divisa entre Alagoas e Sergipe.
Nascente Rio São Francisco (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)Principal nascente do rio está seca (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)
Segundo Castanheira, o motivo é a estiagem. "Essa nascente é a original, a primeira do rio e é daqui que corre para toda a extensão. Ela é um símbolo do rio. Imagina isso secar? A situação chegou a esse ponto não foi da noite para o dia. Foi de forma gradativa, mas desse nível nunca vi em toda a história”, afirmou.
Rio São Francisco (Foto: Bacia abrange mais de 500 municípios de sete estados)
O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, disse ao G1 que, embora a notícia ainda não tenha chegado oficialmente ao conhecimento do comitê, não causa surpresas em virtude de essa ser uma das estiagens mais graves desde que foi iniciado o acompanhamento histórico do rio. Para ele, a situação é preocupante, já reflete no nível das barragens e ameaça a biodiversidade do São Francisco.
“Isso não é comum, é preocupante. Não há dúvida de que algo em grande escala está mudando em nosso ecossistema. As principais barragens do Alto São Francisco, que são a de Três Marias e Sobradinho, estão sendo ameaçadas e se aproximam do limite de volume útil de água. Ou seja, a água dos principais afluentes está chegando ao nível zero, e a biodiversidade do rio está comprometida, além de a qualidade do rio estar se deteriorando", explicou Miranda.
O volume útil da Represa de Três Marias, que é a primeira barragem construída ao longo do rio, chegou a registrar 6% nesta semana. A de Sobradinho, 31%. “São níveis baixíssimos e que causam impactos catastróficos, como já vem ocorrendo no Baixo São Francisco. Com o nível baixo, o oceano está invadindo o rio e salinizando a água doce”, concluiu Miranda.
Ele ressaltou que, apesar de a nascente em São Roque de Minas, no Centro-Oeste do estado, não ser determinante para o volume de água da bacia, ela serve como um "termômetro", uma vez que o nível dos reservatórios da região é fundamental para o São Francisco.
Soluções
O presidente do Comitê da Bacia do rio diz que não se pode contar com o período mais úmido que deve vir após outubro. Ele defende que, independente das mudanças climáticas, a questão é emergencial e, para ser amenizada, deve-se mexer no modelo da bacia enérgica do São Francisco, realizando um grande pacto das águas.
Anivaldo Miranda pontuou ainda que o poder público deve tratar a bacia hidrográfica com prioridade por ser uma das principais do Brasil e estar entre as mais vulneráveis. “O rio atravessa quase 1 milhão de quilômetros quadrados de região semiárida, atende a região nordeste e grande parte de Minas, onde há grande vulnerabilidade hídrica”, afirmou.
Diante dessa situação crítica, que na visão do especialista começou a se agravar em abril do ano passado, o Comitê da Bacia do São Francisco vai realizar audiências públicas com pessoas diretamente ligadas à bacia. O diálogo terá duração de 18 meses e será feito com o governo federal, municípios, usineiros, mineradores, pescadores, população nativa das comunidades ribeirinhas e comunidade civil. O objetivo das audiências será discutir sobre o futuro da bacia e apresentar a urgência de investir na recuperação hídrica do São Francisco.
Nascente Rio São Francisco (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)Principal nascente que secou fica na cidade mineira de São Roque de Minas (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)
Incêndios
Para piorar a situação, a seca tem causado vários focos de incêndio no Parque Nacional da Serra da Canastra nos últimos meses – levando à utilização da pouca água do São Francisco para apagá-los. Em julho, o fogo devastou cerca de 40 mil hectares de vegetação nativa. “Combatemos as chamas usando água do parque, mas isso não foi o fator mais agravante. O que pesa mais é a seca, a falta de chuva. Corre pouquíssima água, e essa realidade é triste”, disse o diretor do parque. O incêndio mais recente durou quatro dias e, pouco depois, outros focos foram registrados.
A estiagem deste ano ocorre em todo o país há vários meses, exceto na região Sul. Em Minas, diversas regiões enfrentam o problema da seca, entre elas cidades do Triângulo Mineiro, Zona da Mata e Centro-Oeste do estado, que já chegaram a decretar situação de emergência pelo desabastecimento e a multar moradores flagrados desperdiçando água.
E as previsões são pouco animadoras. A primavera começou às 23h29 desta segunda-feira (22) e, de acordo com o meteorologista Marcelo Pinheiro, da empresa Climatempo, a tendência é que na estação a temperatura fique de 2ºC a 3ºC acima da média nas regiões Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. No Sul, a temperatura pode ficar até 3ºC acima da média.
Além disso, a primavera deve ser caracterizada por temperaturas um pouco acima do normal e chuvas dentro da média na maior parte do país – porém ainda insuficientes para resolver o problema de falta d’água nos reservatórios. Especificamente para a região afetada pela seca no Centro-Oeste de Minas Gerais, a previsão é de que o período de chuvas só comece em outubro.

*Colaboraram Palmira Ribeiro e Anna Lúcia Silva
Fogo deve ser erradicado nesta quarta-feira  (Foto: Edvaldo Fausto/Divulgação)Incêndio no parque no dia 8 desse mês controlado com apoio de aeronaves (Foto: Edvaldo Fausto/Divulgação)
Fonte: http://jornalggn.com.br/fora-pauta/nascente-do-rio-sao-francisco-secou

sábado, 13 de setembro de 2014

AQUECIMENTO GLOBAL PODE LIBERAR CARBONO RETIDO NOS SOLOS...

 (Foto: Pat Dumas/flickr/creative commons)
Uma equipe de pesquisadores fez uma descoberta alarmante: com o aumento de temperatura ocasionado pelo aquecimento global, a decomposição realizada por comunidades microbianas no solo pode se acelerar, lançando ainda mais gases de efeito estufa na atmosfera. Os cientistas estimam que atualmente 60 bilhões de toneladas de dióxido de carbono já sejam liberadas dessa forma, e que a quantidade total de CO2 retida nas terras do planeta equivalha a quatro vezes aquela sequestrada pelas plantas.
“Porque os solos armazenam mais do que o dobro de carbono do que a atmosfera, mudanças nas taxas de decomposição e liberação de dióxido de carbono do solo podem ser muito importantes”, diz Kristiina Karhu, principal autora do estudo. O artigo que foi publicado semana passada na revista Nature concluiu que, neste cenário, a capacidade do solo de sequestrar carbono pode ser fortemente reduzida ou até eliminada.
Os cientistas coletaram amostras de diferentes regiões geográficas e climáticas, variando desde o Ártico até a Floresta Amazônica. Eles constataram que os solos cultivados não demonstraram variação nas taxas de decomposição, já na terra de regiões árticas ela foi fortemente estimulada – o que é preocupante, pois é justamente nos ecossistemas polares que a temperatura aumenta mais rapidamente.
Fonte: http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Meio-Ambiente/noticia/2014/09/aquecimento-global-pode-liberar-carbono-retido-nos-solos.html

domingo, 7 de setembro de 2014

SISTEMAS AGROFLORESTAIS CONTRIBUEM PARA A CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS EM BIOMAS DIVERSOS

Com o objetivo de propagar as agroflorestas por todo o país, com maior ênfase nos Assentamentos de Reforma Agrária, a Cooperafloresta, por meio do Projeto Agroflorestar, realiza pesquisas científicas nos assentamentos Mário Lago (Ribeirão Preto/SP) e Contestado (Lapa/PR). Nestas regiões as diferenças ambientais em todos os âmbitos refletem em características agroflorestais ainda não estudadas.
Promover a irradiação das agroflorestas nos Assentamentos de Reforma Agrária em biomas diversos é a primordial proposta da segunda etapa da pesquisa científica do Projeto Agroflorestar, que está sendo realizado pela Cooperafloresta (Associação dos Agricultores Agroflorestais de Barra do Turvo/SP e Adrianópolis/PR) e patrocinado pela Petrobras através do Programa Petrobras Socioambiental.
À partir das experiências agroflorestais desenvolvidas pela Cooperafloresta na Mata Atlântica no Vale do Ribeira e Litoral do Paraná, está sendo realizada a pesquisa ‘Estoques de carbono nas florestas’ em assentamentos localizados na Lapa/PR e Ribeirão Preto/SP, onde predominam outras condições de clima, solo e biodiversidade, inclusive áreas degradadas no Bioma Cerrado. O objetivo é subsidiar e orientar a prática agroflorestal, facilitando a sua adoção e multiplicação.
A grande sintonia do que prega e pratica o Projeto Agroflorestar em tornar a agroecologia a matriz produtiva nacionalmente hegemônica no âmbito da Reforma Agrária e da agricultura brasileira, potencializa imensamente sua capacidade de gerar impactos num cenário que extrapola em muito, os assentamentos e escolas nos quais o projeto atua diretamente.
O engenheiro agrônomo Nelson Eduardo Corrêa Netto, coordenador do Projeto Agroflorestar e técnico da Cooperafloresta, alia também a isto à força de atuação, em âmbito nacional, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. “O MST envolve, de forma orgânica, mais de meio milhão de famílias no maior e mais determinado movimento social do país. Neste universo, a afirmação prática científica e socialmente monitorada de um paradigma no qual a Conservação da Natureza e a cooperação das pessoas entre si e com os processos naturais são a base do sistema produtivo representa um grande avanço”.
O pesquisador deste tópico do Agroflorestar, o doutor Walter Steenbock, analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMbio) ressalta a importância da agricultura familiar no processo de conservação ambiental, em todos os âmbitos, se comparada à agricultura convencional (Agronegócio). “Quando se tata de conservação ambiental, a agricultura familiar tem se mostrado mais eficiente que o agronegócio do ponto de vista social, econômico e ambiental”, aponta o pesquisador, que esteve à frente da primeira etapa da pesquisa inserida no Agroflorestar finalizada em dezembro de 2012.
Resultados científicos da primeira etapa da pesquisa endossam esta afirmação, como a diversidade de produtos para a subsistência, que ampliou em cerca de 95% se comparado a quando praticavam a agricultura convencional (monocultura), que também maximiza a renda com a redução de gastos externos. E o mais importante – já que não se trata apenas das famílias que atuam hoje nas agroflorestas, mas do futuro de novas gerações: a recuperação de 1.000 hectares (ha) dos recursos naturais na área de atuação das 120 famílias associadas à Cooperafloresta (100 alqueires).
Objetivos - “Além de trabalharmos para a propagação das agroflorestas, consideramos fundamental buscar a geração, por parte das esferas Municipais, Estaduais e Federal, de políticas públicas de crédito, de assistência técnica, de pesquisa, de educação e de regulamentação ambiental adequadas”, frisa Steenbock.
“O investimento em conhecimento, pesquisa, desburocratização dos processos e regulamentação ambiental adequada são questões consideradas fundamentais para o desenvolvimento do setor. E este trabalho, somado aos que já obtivemos em âmbito global nos Sistemas Agroflorestais da Cooperafloresta com o balanço de carbono, e considerando os impactos positivos da agricultura agroflorestal produzindo bens e serviços mensuráveis, apontam o sucesso do trabalho realizado por toda a equipe da Cooperafloresta e de todas as famílias agricultoras”, avalia o pesquisador.
Primeira etapa – A primeira etapa do experimento foi desenvolvida em 16 agroflorestas para a caracterização da estrutura florestal. Foram incluídas agroflorestas de diferentes idades, em distintas condições de solo e relevo e conduzidas sob variações amplas de manejo. “O manejo agroflorestal reflete na dinâmica do carbono, apontando para a possibilidade de agregar carbono, produção de alimentos e biodiversidade nos mesmos espaços”, esclarece Steenbock.
Segunda etapa – A proposta do eixo de pesquisa, para o período de 2013/2014, é monitorar indicadores ambientais, de fertilidade do solo e produtivos, periodicamente, desde o início da implantação de agroflorestas. Considerando a analogia aos “retratos” das agroflorestas, realizados no período passado, a proposta atual é realizar “filmes” da dinâmica do carbono, da biodiversidade e da fertilidade do solo, de forma associada à descrição detalhada das práticas de manejo realizadas em cada agrofloresta sob análise.
Sucesso dos Sistemas Agroflorestais (SAFs) da Cooperafloresta junto aos Assentamentos de Reforma Agrária
Atualmente, cerca de 180 famílias agriculturas assentadas, distribuídas nos municípios de Morretes, Antonina, Paranaguá, Serra Negra (Litoral do Paraná), Lapa (Região Metropolitana de Curitiba/PR), Ribeirão Preto e Apiaí (ambos em São Paulo) estão tornando seus lotes em um modelo viável de produção alternativa à monocultura e um exemplo de reforma agrária bem-sucedida.

Cada localidade com suas peculiaridades climáticas e comunidades diversas, estão se integrando em torno de um só objetivo: proteção e recuperação ambiental aliadas ao resgate da dignidade de vida das famílias. “Para tanto, o trabalho é detalhado, moroso, mas satisfatório.Apesar dos assentados já terem conhecimento sobre o respeito ao meio ambiente em razão do engajamento na causa da Reforma Agrária, na maioria dos lotes, a exemplo dos de Ribeirão Preto, as terras estão desgastadas pelo uso de agrotóxicos, heranças deixadas pelo cultivo da cana de açúcar. Diante disso, o processo, na sua íntegra, necessita do nosso apoio – do modelo de manejo, do apoio técnico nos processos de organização, formação e, principalmente, na capacitação das famílias agricultoras”, finaliza Nelson Eduardo Corrêa Netto.
Pesquisa nos assentamentos – Em Ribeirão Preto, 90 famílias agricultoras do assentamento Mário Lago estão engajadas e a satisfação é evidente nas palavras de Zaquel Miguel de Carvalho, assentado oficialmente no município desde 2008. “Desde que estivemos em Barra do Turvo e pudemos ver o quanto nossa terra pode trazer felicidade, comprei a ideia. É disso que precisamos aqui no Mário Lago. Nossas terras foram destruídas e precisamos desfazer o mal que fizeram por aqui. Nossa água está contaminada pelo agrotóxico que aqui colocaram. Mas aprendi: agora estamos plantando água e terra”, comemora Zaquel Miguel de Carvalho.
“Percebemos que o êxito da agrofloresta em Ribeirão Preto será fundamental para o sucesso do próprio assentamento, potencializando sua proposta de reunir recuperação ambiental e produção. O que nos deixa exultante é perceber que as lideranças e famílias locais estão se apropriando, cada vez mais, do Projeto Agroflorestar e sua proposta”, comemora o engenheiro agrônomo Nelson Eduardo Corrêa Netto.
No assentamento Contestado, com 108 famílias do MST, na Lapa (PR), há outro exemplo da importante atuação do Projeto Agroflorestar. Os intercâmbios de conhecimento com as famílias agricultoras da Cooperafloresta socializando suas experiências de mais de 15 anos com agroflorestas, são de fundamental importância no processo de ampliação de referências de reforma agrária com agroflorestas. Na Lapa, 40 famílias implantaram áreas piloto de 750 m², em caráter experimental e demonstrativo.
No município, a parceria do Contestado com a Escola Latino-Americana de Agroecologia (ELAA), que se localiza no Assentamento foi fundamental para a realização da pesquisa, já que a soma de esforços e respectivos conhecimentos, serão fundamentais para a disseminação do sucesso lá conferido. (Fonte: Cooperafloresta)

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

ECO-ECONOMIA: UMA MUDANÇA DE PARADIGMA...


“O não contato com a realidade é a principal crítica aos economistas. Eles não têm contato com a realidade e não entendem que o problema ambiental não brotou do nada, e sim do sistema econômico, das ações diárias das pessoas, e que existe uma necessidade de mudança de paradigma”. Assim, o economista Hugo Penteado define os profissionais da área econômica de hoje. Em entrevista, por telefone, à IHU On-Line, ele defende uma economia preocupada, principalmente, com a sociedade e com o meio ambiente e afirma que as ciências econômicas precisam dialogar com as demais ciências, já que a economia interfere no planeta e nos serviços ecológicos do qual todos nós dependemos.
Hugo Penteado é mestre em economia pela Universidade de São Paulo e trabalha no mercado financeiro há mais de 20 anos. É autor do livro Ecoeconomia – Uma Nova Abordagem (São Paulo: Lazuli, 2003).
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Podemos dizer que os economistas são imediatistas?
Hugo Penteado – Com certeza. Temos uma ciência completamente autista em relação a vários problemas que estão surgindo, e que estão sendo acarretados por esta visão míope. Por exemplo, nos modelos dos economistas, não há uma só variável que inclua a contribuição dos recursos da natureza. Mesmo os recursos naturais tangíveis que são aqueles que podemos pegar, como metais, petróleo etc., são considerados até hoje, pela macroeconomia moderna, completamente irrelevantes para explicar o processo econômico.
Na verdade, os economistas consideram os bens da natureza como completamente livres, e a ideia de infinitude planetária como um princípio. Eles acreditam que a economia pode ser maior que o planeta e outros absurdos como, por exemplo, a crença que o planeta é um subsistema da economia, e não o inverso. A realidade física, biológica e ecológica não está sendo considerada pelas teorias. Temos que fazer uma inversão de eixos o mais rápido possível porque esse tipo de visão criou um conflito entre o sistema econômico e as pessoas com a natureza da qual dependemos. A realidade é que a economia e as pessoas são o subsistema do planeta, é justamente o inverso. E, portanto, ao não considerar isso, o problema é agravado pelas métricas, estas consideram os bens da natureza livres, o planeta infinito, então, nada disso tem menor apreço por estas questões.
Estamos vivendo uma das maiores externalidades ambientais do sistema, até para viabilizá-lo. Sem a inclusão dessas variáveis, o sistema está caminhando para um colapso total. É mais do que urgente que a economia mude esta visão. Já existem correntes teóricas contrárias há mais de 60 anos cujas teses e críticas jamais foram refutadas e, no entanto, os economistas teimam em manter a mesma visão de crescimento eterno das economias sem fazer nenhuma conta, o quanto de água e de solo fértil será necessário, lembrando que recursos são infinitos e estão ficando cada vez mais escassos no mundo todo.
IHU On-Line – O senhor disse recentemente em seu blog que o “Nobel de Economia” é um alerta para os economistas autistas. Pode nos explicar por quê?
Hugo Penteado – Em primeiro lugar, nenhuma crítica aos autistas, minha irmã mais velha é autista, e eu entendo muito bem como funciona um autista, infelizmente, ele não enxerga a realidade, e isso é tão forte que ele não é capaz nem de desenvolver a fala. O primeiro diagnóstico do autista é mudo-surdo, geralmente, se fizerem testes técnicos de audição vão encontrar o diagnóstico de surdez. O não contato com a realidade é a principal crítica aos economistas. Eles não têm contato com a realidade e não entendem que o problema ambiental não brotou do nada, e sim do sistema econômico, das ações diárias das pessoas, e que existe uma necessidade de mudança de paradigma. Não dá para encontrar uma solução para o problema que a humanidade enfrenta hoje dentro do paradigma atual. A insistência nesse paradigma é de transformar aquecimento global em oportunidade de negócios. Acho que esta é a principal mensagem, precisamos de uma mudança de paradigma, e a economia precisa ser uma ciência que se comunique com as demais ciências, pois ela interfere com o planeta e os serviços ecológicos do qual todos nós dependemos.
Não dá mais para assumir que a economia, como muitos economistas assumem sem saber, é neutra para a natureza. A economia tem uma raiz epistemológica mecanicista e, através dessa raiz, há um erro teórico, já reconhecido há mais de 60 anos, de que a economia simplesmente trabalha com a ideia absurda que é a falta de contato com a realidade, que eu falo autismo, onde o sistema econômico é neutro para o meio ambiente, e que o planeta é inesgotável. Esse tipo de visão da realidade é um confronto, ou os economistas mudam o paradigma ou ele irá mudar sozinho, o planeta já está revidando. A Austrália lançou recentemente um plano de evacuação da população costeira até 55 km da linha da costa para dentro, que irá se iniciar em dezembro de 2009. Cerca de 80% da população australiana vive na costa e está preocupadíssima com a mudança climática, uma vez que as evidências não podem mais serem negadas. Cerca de 80% do gelo das estações de esqui desapareceram, e lugares pobres como a Bolívia, que tinha estações de esqui famosas no mundo todo, perderam completamente o gelo de forma permanente. Não tem mais como negar que as mudanças climáticas estão em curso.
A Índia parou de produzir arroz, a Austrália parou de produzir leite, já temos uma série de eventos como a seca enorme da Amazônia em 2005, a forte onda de calor que matou milhares de pessoas na Europa, em 2003. Sobre os eventos climáticos recentes, nos anos de 2008 e 2009, ninguém prestou atenção, a mídia precisa fazer um esforço para mostrar isso cada vez mais claramente, pois são mudanças que estão ocorrendo e não estão sendo amplamente divulgadas.
IHU On-Line – O que falta aos economistas de hoje?
Hugo Penteado – Conhecimento das demais ciências, isso interfere com a biodiversidade e os ecossistemas. Precisamos ter conhecimentos das ciências mais puras como física, química e matemática, que são as bases das demais vertentes científicas. A ciência precisa ter uma melhor análise social, pois alegar que o crescimento econômico gera benesses. Isso nos países desenvolvidos, principalmente, através de uma concentração de riquezas gigante que vigora hoje no mundo rico. É preciso também transformar essa ciência, que é extremamente matematizada, em uma ciência social, o que deveria ser o objetivo maior. Quando decidi estudar economia, minha preocupação era com o aspecto humano, populacional e social. De repente, deparo-me com uma ciência que só trabalha com equações matemáticas totalmente desvinculadas da realidade, onde duas variáveis foram excluídas dos modelos dos economistas, que são as pessoas e o meio ambiente. Só isso eles excluíram dos modelos e vivemos o absurdo das pessoas servindo a uma economia ao invés de ter um sistema econômico que sirva às pessoas.
IHU On-Line – O que é a visão “in the box”?
Hugo Penteado – É a visão na qual a economia é considerada um superssistema, o planeta é considerado um subsistema, equivalente à visão que a humanidade já teve no passado de que a Terra era o centro do universo, e que o sol girava em seu entorno. Hoje, os economistas têm uma visão de que o planeta gira em torno da economia, e que a economia é o centro do universo. Na verdade, o planeta é o sistema maior, ele que dita as regras. Não temos a menor condição de interferir nas regras planetárias, temos apenas que negociar e dialogar bem com elas. Não tem jeito, não tem como alterarmos, só conversamos, vivemos e respiramos graças à biodiversidade e aos ecossistemas. Os primeiros relatórios sistêmicos da situação dos ecossistemas saíram nos anos de 2006 e 2008, o projeto Millennium Ecosystem Assessmen, a avaliação é simplesmente negra em relação ao impacto do que estamos fazendo. A crescente demanda sobre recursos cruciais como a água, por exemplo, é uma situação de que estamos caminhando para um cenário de ruptura na questão da água. Nem preciso dizer a importância da água, toda a vida depende dela. A água só existe porque existe a biodiversidade.
Esta é uma questão extremamente importante, da interdependência. Vivemos em uma sociedade individualista e vemos a interdependência como algo negativo, o exemplo da floresta Amazônica é bastante importante. Cerca de 50% da água da Amazônia vêm da evaporação dos oceanos e os outros 50% vêm da transpiração das florestas. A água da Amazônia só existe porque há floresta e a floresta só existe porque há água. É isso que estamos tentando fazer na Amazônia, e no cerrado a mesma coisa. O aquífero Guarani depende da existência do cerrado, se o cerrado desaparecer, a água morre; se a água morrer, a agricultura morre. Então dizer que eu preciso ter metas menos ambiciosas em relação ao cerrado e à Amazônia por causa da expansão agrícola é uma visão estanque, porque eu não levo em consideração complicações sistêmicas que têm efeitos alavancados. Nem precisa mencionar também o fato de se ter feedbacks positivos nos ecossistemas, e pontos a partir do qual os ecossistemas se autodestroem. O que a comunidade científica vem alertando é que a situação hoje é extremamente crítica. Acho que as informações e os alertas deveriam ser maiores para que as pessoas modificassem seus hábitos de hoje, que é de um extremo desperdício de tudo, de matéria e energia, como se isso fosse abundante e eterno. Não têm o menor compromisso com o planeta e nem com as gerações futuras. Todo transporte em cima de carro individual é um verdadeiro absurdo, o melhor meio de transporte é o coletivo ou andar a pé. São mudanças muito radicais, e não sei se a humanidade está preparada para fazer antes que alguma coisa mais grave ocorra.
IHU On-Line – Mas o fato de uma mulher como Elinor Ostrom ter recebido este prêmio pode indicar alguma mudança no pensamento econômico mundial?
Hugo Penteado – Não sei se isso seria um alerta. Eu tenho tentado conversar com economistas famosos, muitos nem me respondem, vários economistas do mercado financeiro como Jim O’Neil etc. para tentar mostrar que temos uma agenda econômica com variáveis escondidas que são muito mais importantes. O que os economistas precisam entender é que muitos itens extremamente importantes para a humanidade têm valor intrínseco, e não podem sequer serem valorados. Acreditar que o sistema de preços ou mecanismos de mercado vai criar uma regra que beneficie o meio ambiente é um verdadeiro absurdo. A maior parte do sistema métrico trabalha com a falsa ideia de que os bens da natureza não têm valor algum. Na verdade, todas essas métricas, o sistema de preços, o funcionamento do mercado atuam da seguinte forma: quanto mais viável economicamente for uma atividade, mais inviável ambientalmente ela é.
Existe uma lista enorme de exemplos nesta direção, basta ver o colapso das reservas pesqueiras do norte da Europa. Vários cientistas e governos alertaram as aldeias pescadoras para pararem de pescar, e não pararam, pois, quanto mais eles pescavam, além da reposição das reservas, menos peixes saíam, mais caro eles ficavam, e isso era um estímulo para continuarem pescando. Pescaram até o último peixe e causaram um desastre ambiental social gigante, o mais assustador da perda de reservas pesqueiras oceânicas, como é o caso dos países do norte da Europa que não teve retorno. Isso é uma perda definitiva. Estamos nos comportando de forma extremamente predatória. Temos as bacias hidrográficas no Brasil e é preciso ver que as tentativas de evitar que ocorra o colapso destas através da cobrança da água esbarra no seguinte argumento: se cobrarmos pela água a atividade fica economicamente inviável.
A pergunta é: mas se a bacia hidrográfica entrar em colapso por não estarmos cobrando pela eficiência do uso da água, a atividade também vai entrar em colapso? Temos um estado do norte nos Estados Unidos, que é uma miniChina, 99% de sua fonte energética é carvão, gerando uma poluição gigante neste estado, e se chegarmos para o governo desse estado e dissermos para mudar a matriz energética, a resposta será: se mudarmos a matriz energética, a atividade econômica fica inviável. Aqui já ouvimos de alguns políticos da região norte que não dá pra combater a atividade madeireira ilegal porque isso inviabilizaria a economia do estado. Temos agendas ocultas por trás do crescimento econômico que precisam vir à tona. Todo o impacto social, ambiental é amplamente ignorado e o imediatismo é total. Os governos estão pouco se lixando para o que vai acontecer, daqui a 20 anos, com as gerações futuras. As metas são de curto prazo, não temos a capacidade de incluir variáveis de longo prazo, o mercado financeiro, onde eu trabalho há mais de 20 anos, é um ótimo exemplo. O prazo do mercado financeiro é de apenas seis meses.
IHU On-Line – Se hoje nós temos posições insustentáveis, o que pode fazer com que o mundo seja sustentável?
Hugo Penteado – Cada um de nós, individualmente, tem uma contribuição muito grande para dar que é começar a olhar para os recursos de matéria e energia que utilizamos para viver, reduzindo maciçamente esse consumo, focando em relações sociais. Tem aquela proposta de consumo consciente de um instituto, que fala “não dê um presente, dê uma lembrança”. Precisamos nos desmaterializar, precisamos ter noção que cada recurso desperdiçado, além de ser extremamente karmático para todos nós, é um crime. Estamos cometendo, inconscientemente, um crime contra a sociedade, a humanidade, a biodiversidade, a natureza, o planeta ao implementar um consumo extremamente inconsciente. Tenho uma dica de um livro que acho muito interessante, do Daniel Goleman, autor do “Inteligência emocional”. Ele escreve um livro chamado “Inteligência ecológica” que é excelente, mostra o quanto somos ignorantes e o quanto precisamos de conhecimento para poder pressionar as empresas a realmente adotarem regras mais viáveis, do contrário a humanidade irá desaparecer.

Fonte: (Ecodebate, 09/11/2009) publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação. [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.] / http://cidadaniaatual.blogspot.com.br/2012/11/eco-economia-uma-mudanca-de-paradigma.html

CENÁRIOS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS PARA O BRASIL NESTE SÉCULO XXI

Amazônia – Se o avanço da fronteira agrícola e da indústria madeireira for mantido nos níveis atuais, a cobertura florestal poderá diminuir dos atuais 5,3 milhões de  km2 (85% da área original) para 3,2 milhões de km2 em 2050 (53% da cobertura original). O aquecimento global vai aumentar as temperaturas na região amazônica, e pode deixar o clima mais seco, provocando a savanização da floresta. O aquecimento observado pode chegar até 8ºC no cenário pessimista A2. Os níveis dos rios podem ter quedas importantes e a secura do ar pode aumentar o risco de incêndios florestais.
Semi-árido – As temperaturas podem aumentar de 2ºC a 5ºC no Nordeste até o final do século XXI. A Caatinga será substituída por uma vegetação mais árida. O desmatamento da Amazônia pode deixar o semi-árido mais seco. Com o aquecimento a evaporação aumenta e a disponibilidade hídrica diminui. O clima mais quente e seco poderia levar a população a migrar para as grandes cidades da região ou para outras regiões, gerando ondas de “refugiados ambientais”.
Zona Costeira – O aumento do nível do mar vai trazer grandes prejuízos ao litoral. Construções à beira-mar poderão desaparecer, portos poderão ser destruídos e populações teriam que ser remanejadas. Sistemas precários de esgoto entrarão em colapso. Novos furacões poderão atingir a costa do Brasil.
Sudeste e bacia do Prata – Ainda que a chuva tendesse a aumentar no futuro, as elevadas temperaturas do ar simuladas pelos modelos poderiam, de alguma forma, comprometer a disponibilidade de água para agricultura, consumo ou geração de energia devido a um acréscimo previsto na evaporação ou evapotranspiração. A extensão de uma estação seca em algumas regiões do Brasil poderia afetar o balanço hidrológico regional, e assim comprometer atividades humanas, ainda que haja alguma previsão de aumento de chuva no futuro.
Região Sul – A produção de grãos poderá ficar inviabilizada na região Sul do Brasil com o aumento da temperatura, secas mais freqüentes e chuvas restritas a eventos extremos de curta duração. As chuvas cada vez mais intensas poderiam castigar as cidades, com grande impacto social nos bairros mais pobres. Ventos intensos de curta duração poderiam também afetar o litoral. Com temperaturas mais altas e extremas em curto espaço, mais doenças seriam registradas.
Agricultura – Culturas perenes, como a laranja, tendem a procurar regiões com temperaturas máximas mais amenas e a produção poderá se deslocar para o Sul. Elevadas temperaturas de verão vão condicionar o deslocamento das culturas como arroz, feijão, soja para a região Centro-Oeste, promovendo a mudança do atual eixo de produção.
Recursos hídricos – A redução de chuvas e a diminuição da vazão nos rios vão limitar os esgotos e o transporte fluvial. Poderá haver transbordamento de estações de tratamento e de sistemas de sanitário. A geração de energia ficará comprometida com a falta de chuvas e altas taxas de evaporação devido ao aquecimento, em algumas regiões.
Grandes cidades – Regiões metropolitanas ainda mais quentes, com mais inundações, enchentes e desmoronamentos em áreas principalmente nas encostas de morro.
Saúde – Os casos de doenças infecciosas transmissíveis poderão aumentar. A dengue pode se alastrar pelo País. A proliferação tende a aumentar nas áreas urbanas.
FONTE: MMA
Fonte: http://cidadaniaatual.blogspot.com.br/2012/11/cenarios-de-mudanca-climatica-para-o.html