quinta-feira, 21 de maio de 2015

A QUEM INTERESSA QUE O CAOS NA AMAZÔNIA CONTINUE ?




Novo relatório do Imazon abrange os motivos da baixa eficácia dos órgãos do governo em demarcar a posse de terras

BRENDA BRITO E DÁRIO CARDOSO JR.

18/05/2015 - 07h00 - Atualizado 18/05/2015 07h00 


Derrubar a floresta é o primeiro passo para grileiros se apossarem de terras públicas (Foto: Daniele Gidsicki/Flickr)

A falta de clareza sobre quem tem direito à terra na Amazônia é comumente citada como um dos principais problemas para avançar com políticas de produção sustentável e de conservação na região. Mas se isso é praticamente um consenso, por que o problema ainda existe? Quais os motivos da baixa eficácia dos órgãos fundiários?

Um novo relatório publicado pelo Imazon, chamado Regularização fundiária no Pará: Afinal, qual o problema?indica que a resposta para essas perguntas abrange vários fatores, mas queremos destacar três problemas principais. O primeiro é a diversidade de leis regulando o assunto e de instituições responsáveis pela solução. A legislação fundiária brasileira considera quem é o ocupante da terra e qual a jurisdição da área (federal ou estadual) para determinar como sua ocupação será regularizada e qual instituição tem atribuição para isso. Assim, as regras variam se o ocupante pertencer a povos indígenas, população tradicional, comunidade quilombola ou, ainda, se for agricultor familiar, pequeno, médio ou grande produtor rural.
Ocorre que nem sempre há clareza se a terra é federal ou estadual e há casos recentes de questionamentos até sobre a identidade de quem está solicitando direito à terra. Isso ocorreu em decisão judicial na Justiça Federal em Santarém, que determinou a inexistência de etnia indígena de um grupo, alegando que se tratava de população tradicional. Portanto, este grupo teria que pleitear outra forma de reconhecimento à terra ao invés de reconhecimento de território indígena.
O segundo problema, que deriva do primeiro, é a fraca coordenação entre as instituições com responsabilidade fundiária, seja na mesma esfera de governo ou entre diferentes esferas. A sobreposição de atuações institucionais em um mesmo território é frequente, mas o diálogo entre elas é precário. No nível federal, uma Câmara Técnica foi criada em 2013 para decidir de forma coordenada a destinação de áreas federais na Amazônia que ainda não possuem definição fundiária (as glebas federais). Diferentes órgãos vinculados a quatro ministérios (Desenvolvimento Agrário; Meio Ambiente; Defesa; Planejamento, Orçamento e Gestão) reúnem-se periodicamente para avaliar a destinação de grandes blocos de terra dessas glebas. A demanda total estimada para avaliação da Câmara é de 55 milhões de hectares, equivalente a 12 vezes o estado do Rio de Janeiro.

>> Amazônia: Saqueadores de terra pública sonegam R$ 270 milhões por ano só no Pará
O modelo da Câmara é promissor, mas pode ser aperfeiçoado de duas formas. Primeiro, ampliando a coordenação com os estados. Atualmente, os governos estaduais são consultados por ofício e, se não responderem, não têm outra oportunidade de participar da decisão. Ocorre que a ineficácia desse procedimento via ofício foi um dos principais motivos que levaram à criação da Câmara na esfera federal; logo, é preciso aperfeiçoar a comunicação com órgãos estaduais. Outra necessidade é dar publicidade às áreas em análise pela Câmara e criar oportunidade para receber contribuições de atores de fora do governo. Mesmo com representatividade de diferentes órgãos na Câmara, é possível que nem todas as situações dessas áreas estejam pré-identificadas para orientar a tomada de decisão. Assim, um primeiro passo para aumentar a participação social nessa instância seria disponibilizar pelo menos na internet mapas com a localização das glebas em análise e criar canais de comunicação para envio de comentários, por exemplo.
Na esfera estadual, os esforços para ampliar coordenação institucional em questões fundiárias são baixos ou inexistentes. No Pará, as duas iniciativas mais promissoras não foram lideradas por órgãos fundiários. A primeira ocorreu ainda em 2007 com a criação de uma Comissão de Combate à Grilagem de Terras no estado. Formada por 12 instituições do poder público e sociedade civil, esta comissão conseguiu levantar informações sobre títulos de terra falsos registrados em cartórios de diferentes municípios no Pará. A Comissão influenciou uma decisão histórica do Conselho Nacional de Justiça em 2009 que levou ao cancelamento sem necessidade de ação judicial de mais de 5 mil matrículas de imóveis no estado.
A segunda iniciativa é um projeto piloto desenvolvido em parceria entre o Ministério Público Estadual do Pará, o Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) e a Universidade Federal do Pará, que está coletando e sistematizando informações fundiárias existentes em cartórios, no Instituto de Terras do Pará (Iterpa), no Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e no Programa Terra Legal. O projeto já atuou em sete municípios e está formando o que pode ser a mais completa base de dados fundiária integrada no estado, com diversas possibilidades de uso para facilitar a atuação das instituições fundiárias e órgãos de controle. Um dos desafios dessa iniciativa é que os órgãos fundiários abracem a causa e efetivamente usem o sistema em suas rotinas. Outro desafio seria expandi-la para todo o estado, o que teria um custo estimado de U$ 20 milhões – não tão alto, se considerarmos os potenciais benefícios.

>> Leia nossa cobertura completa sobre Amazônia
A dificuldade de acesso e integração de informações fundiárias, aliada à baixa transparência dos órgãos nessa área, é o terceiro problema para avanço da regularização. No âmbito federal, o Ministério do Desenvolvimento Agrário tem avançado na implementação da Lei de Acesso à Informação, a partir da atuação da Controladoria-Geral da União (CGU) frente aos órgãos públicos federais. O site do Incra, por exemplo, já divulga várias informações independentemente de solicitação: ações e programas, licitações e contratos, auditorias etc. Além disso, o portal i3geo disponibiliza mapas interativos com indicações de áreas em processo de regularização pelo programa Terra Legal. É possível, por exemplo, acessar as informações de um imóvel, como dados do ocupante (nome e CPF) e a situação do processo de regularização. Por outro lado, ainda não há integração entre sistemas de diferentes instituições federais que lidam com informações fundiárias. Por exemplo, o novo Sistema Nacional do Cadastro Ambiental Rural – Sicar – não usa a base de dados fundiária do MDA como uma camada de informações padrão para análise de dados.
Na esfera estadual no Pará, além da falta de integração, a transparência de dados é baixíssima. Nossa avaliação sobre o Iterpa revelou que apenas 17% das informações de divulgação obrigatória são disponibilizadas de forma satisfatória. O restante dos dados é parcialmente disponibilizado ou de divulgação inexistente (54% e 29%, respectivamente). Um exemplo preocupante ocorre na venda de terras públicas estaduais: uma vez destacadas do patrimônio público, o Iterpa não divulga quem as comprou ou os valores arrecadados na venda.
Em janeiro de 2015, o Iterpa assinou um acordo com o Ministério Público do Estado do Pará para adequar o órgão fundiário à Lei de Acesso à Informação. Entretanto, o instituto ainda não cumpriu os prazos e obrigações assumidas. Ajudaria se o Pará tivesse um órgão formalmente designado para liderar a implementação dessa lei nos diferentes órgãos estaduais. De acordo com a CGU, o Pará é um dos cinco estados que ainda não regulamentaram essa lei.
Superar falta de coordenação entre órgãos e esferas de governo e ampliar transparência de informações fundiárias não será fácil. Contudo, essa tarefa é emergencial e essencial se o Brasil quiser realmente reduzir conflitos no campo, disponibilizar áreas legalizadas para expandir produção sustentável e implementar ações de conservação de longo prazo na Amazônia.

Brenda Brito é consultora em assuntos ambientais e fundiários e pesquisadora associada ao Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon)
Dário Cardoso Jr é pesquisador assistente do Imazon


sábado, 2 de maio de 2015

A GRANDE ORQUESTRA DA NATUREZA E A SUA MUSICALIDADE QUE ESTÃO SENDO DESTRUÍDAS PELOS SERES HUMANOS...

Bioacústica

A grande orquestra da natureza

O músico e naturalista Bernie Krause dedicou sua vida a gravar os sons de ambientes selvagens. Em entrevista ao site de VEJA, ele explica como essas paisagens sonoras naturais influenciaram o surgimento da linguagem humana e alerta para o iminente silêncio da orquestra animal

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Guilherme Rosa - Veja.com - 26/11/2013
Twitter/Reprodução

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O músico americano Bernie Krause passou boa parte de sua juventude fechado em estúdios de gravação. Para pagar sua faculdade, no final dos anos 1950, tocou guitarra em diversos discos da gravadora Motown. Já na década de 1960, descobriu os sintetizadores e se tornou um dos primeiros a utilizá-los na música pop, participando de álbuns de artistas e bandas como Rolling Stones, Bob Dylan, Stevie Wonder e George Harrison. Passou também por Hollywood, onde colaborou com as trilhas sonoras de filmes como O Bebê de Rosemary e Apocalipse Now. Há mais de 45 anos, no entanto, ele resolveu deixar os claustrofóbicos estúdios para trás e levar seu trabalho para ambientes mais selvagens: passou a trabalhar com a música produzida pela própria natureza.

Com o passar dos anos, e depois de uma pós-graduação em bioacústica, acabou se tornando um dos principais pesquisadores das paisagens sonoras naturais do planeta. Seu trabalho consiste em ir para o meio do mato — ou do mar, da geleira, do deserto — e gravar o som ambiente. Segundo Krause, os ruídos produzido por pássaros, sapos e rãs, mamíferos, insetos e até larvas soam todos como parte de uma mesma orquestra. "Muitas tribos e grupos de caçadores-coletores definiam essas paisagens sonoras como o som do divino", disse em entrevista ao site de VEJA.

O músico Bernie Krause descreve sua experiência nos locais mais isolados do planeta no livro A orquestra da natureza. Na obra, ele defende que os primeiros humanos evoluíram em meio a essa orquestra ancestral, e foi ali que eles aprenderam a vocalizar, cantar e falar. Hoje, essas melodias antigas estão ameaçadas pela própria ação do homem. Algumas das diversas paisagens sonoras registradas por Krause podem ser ouvidas
no site da Zahar.

Ao longo de todos esses anos, Bernie Krause coletou mais de 4  mil horas de gravação, nas quais é possível ouvir mais de 15 mil espécies em seu ambiente original — paisagens sonoras de um valor científico inestimável. "Estou procurando alguma universidade para armazenar todo meu arquivo de sons - pode até ser brasileira", diz.

Hoje, o próprio ser humano pode estar colocando um fim definitivo nessas melodias ancestrais. Segundo Krause, pelo menos 50% de suas gravações já não podem ser escutadas do mesmo modo nos locais originais — as paisagens foram irremediavelmente destruídas pelo homem. Em entrevista ao site de VEJA, ele explica como essas paisagens sonoras podem ter dado origem à expressão musical humana e alerta para seu silenciamento iminente:

O senhor trabalhou boa parte da vida como músico de estúdio. Como acabou se envolvendo com a gravação de paisagens naturais?
Não é difícil compreender essa transição. Para começar: eu não enxergo muito bem. Grande parte das informações que eu reúno sobre o mundo vem do som. Quando eu era criança, na década de 1940, não se dava muita atenção aos sons naturais e às paisagens sonoras. Então o canal que eu tinha para me expressar pelo som naquela época era a música. Comecei aprendendo violino clássico e composição. Aos 13 anos, carreguei uma guitarra pela primeira vez, e me apaixonei imediatamente pelo instrumento. Depois da faculdade, acabei me envolvendo com a música eletrônica. Junto com outro músico, chamado Paul Beaver, formei uma dupla: Beaver & Krause. Em 1970, lançamos nosso primeiro álbum pela Warner Brothers, chamado In a Wild Sanctuary, que tinha como tema a ecologia — na verdade ele foi o primeiro álbum gravado no ocidente com essa temática. Foi aí que eu tive de ir para o campo e gravar os sons da natureza pela primeira vez. Assim que liguei o gravador, eu fiquei sabendo que era assim que queria passar o resto de meus dias: ao ar livre, gravando e ouvindo os sons da natureza. Isso mudou completamente minha vida. Já nessa época, eu sentia que essas paisagens sonoras estavam desaparecendo muito rápido. Decidi que minha missão é capturar o maior número de sons naturais antes que desapareçam.

Sua experiência como músico ajudou em seu trabalho como pesquisador das paisagens sonoras naturais?
Quando estive no Brasil no começo dos anos 1990, tive a oportunidade de conhecer um de meus heróis: Tom Jobim. Durante nosso jantar no Rio de Janeiro, ele descreveu como, durante sua infância, a Mata Atlântica ficava perto da cidade. Ele podia sair do restaurante em que estávamos, andar por cinco minutos e chegar à floresta. Tom Jobim me confessou que os sons da natureza haviam sido muito importantes para ele, em sua criação musical. Ele me disse, inclusive, que havia gravado um álbum chamado Passarinho por causa disso. Durante minha carreira, conforme fui conhecendo alguns dos melhores músicos do mundo, fui percebendo que eles todos haviam tido — como eu —alguma experiência com os sons do mundo natural. Ainda assim, nas primeiras vezes que tentei ouvir as paisagens sonoras naturais, não consegui captá-la de imediato. Os pesquisadores da área tiveram de me ajudar bastante: eles me ensinaram a escutar o mundo de uma maneira que eu nunca havia escutado antes.

O que exatamente é preciso aprender para se escutar as paisagens sonoras?
A única parte do processo que é realmente importante é aprender a ficar quieto. Precisamos parar de fazer barulho para escutar o mundo natural. Depois disso, não existe muito mais trabalho, basta estar consciente de todos os sons que nos cercam. Aldo Leopold, um escritor e naturalista americano, disse certa vez que, se você for lidar com a natureza, é melhor fazê-lo levando em conta todas as suas partes. É simplesmente isso que precisa ser feito. Acontece que a humanidade desaprendeu a escutar esse mundo natural.

Em que se deve prestar atenção quando se está ouvindo uma paisagem sonora?
A paisagem sonora é composta por todos os sons que chegam a nossos ouvidos. A primeira fonte sonora que merece atenção é a geofonia, composta por todos os sons não biológicos que são gerados em ambientes selvagens, como o som dos rios, as ondas do mar ou o farfalhar produzido pelo vento nos galhos de árvores e gramados. A geofonia foi a primeira expressão acústica da Terra. A segunda surgiu quando os primeiros seres vivos evoluíram e começaram a produzir a biofonia: o som dos organismos vivos. Ela é o som coletivo feito por todos os organismos de um dado habitat, tanto faz se de origem terrestre ou marinha. E o terceiro tipo são os sons produzidos pelos seres humanos, que chamo de antropofonia. Ela inclui os sons intencionais como a música, o teatro e a fala, mas também os sonos mais caóticos e incoerentes, como os que surgem de nossas tecnologias, como automóveis e aviões. Essas são as três fontes de som que formam uma paisagem sonora. Sabendo disso, vá para fora e preste atenção em quanto de biofonia você pode ouvir em um dado habitat. Depois, compare com a quantidade de antropofonia — quanto menor o barulho humano, mais saudável será aquele ambiente.

Então escutar a biofonia nas cidades é impossível?
Isso não é verdade. Há algumas aves e insetos - e até sapos - que se dão muito bem em ambientes urbanos. Você pode prestar atenção, pode ouvi-los, principalmente bem cedo na manhã, antes do barulho humano começar. Esse barulho, é claro, será menor conforme o ambiente estiver comprometido.

Quais dicas o senhor daria para alguém que queira ouvir a biofonia no Brasil?
Não conheço todos os ecossistemas do Brasil. Mas já trabalhei em locais como a Mata Atlântica — um lugar acessível, onde as pessoas podem ir e ouvir as paisagens naturais. O problema é que ela ocupa uma área cada vez menor e é cercada por muito barulho, principalmente por causa da agricultura que avança ao seu redor. Isso faz com que, em alguns momentos, seja muito difícil ouvir a paisagem. Nesse caso, melhor seria ir em direção à Floresta Amazônica, onde há muitos locais para se ouvir as paisagens sonoras naturais. Elas são, por sua riqueza e diversidade, as mais belas do mundo. Não há nada que chegue perto disso.

O senhor pode citar outras de suas paisagens sonoras favoritas?
Eu também gosto muito de paisagens como a do norte do Canadá e do Alasca, porque quase não existem humanos vivendo por ali. Na primavera, após as migrações para o norte, esses locais se tornam habitats maravilhosos para realizar minhas gravações, por serem tão quietos. Não há estradas, não há intervenção humana, e há animais selvagens maravilhosos - é o lugar mais selvagem do planeta.

E entre os animais? Quais são os que produzem os sons mais fascinantes?
Todo ser vivo cria um som. Normalmente, os que mais me surpreendem são os menores, como os vírus. Quando se desprende da superfície a que estava fixado, um vírus produz um pico sonoro — uma mudança de amplitude seca e rápida — mensurável apenas pelos instrumentos mais sensíveis. Nós fomos os primeiros a gravar o som produzido por um deles, há doze anos. Mas o som que eu mais gosto é o emitido pelos sapos nas florestas tropicais. Eles têm muito ritmo e, na realidade, possuem um alcance vocal muito maior do que a maioria dos pássaros que já ouvi. Mas é preciso destacar que, quando se ouve uma paisagem sonora, é necessário tentar ouvir a paisagem como um todo, e não só um ou outro animal. A biofonia é expressa na forma de uma unidade, e não em partes separadas.

É por isso que o senhor diz que a biofonia se parece com uma orquestra?
Isso mesmo. Prestar atenção no som de um único animal é como tentar ouvir a 5ª Sinfonia de Beethoven atentando para um único violinista, sem o contexto da orquestra — você não conseguirá entender a música. No entanto, é isso que grande parte dos naturalistas têm feito desde o final do século XIX e por todo o século XX. Eles têm gravado as vozes dos animais de forma individual, fora de seu contexto. Não podemos aprender nada a partir disso.

Por que os animais produzem sons dessa forma?
Para estabelecer territórios acústicos, do mesmo modo como estabelecem territórios físicos. Cada animal possui uma faixa de frequência acústica que vai defender com sua voz. Insetos têm uma faixa de frequência, pássaros têm outra, sapos e mamíferos também têm a sua. Assim, cada um fica fora do caminho dos outros, e é possível ouvir o canto de todos — como em uma orquestra. Muitas tribos e grupos de caçadores-coletores definiam esse som como o som do divino.

Como o fato de ter surgido em meio a essa orquestra natural afetou a evolução dos seres humanos?
Meu livro fala sobre como esses sons animais nos ensinaram a cantar e dançar. No passado, os homens viam os sons da natureza como uma coleção de vozes estruturadas e coletivas, em meio a qual eles vivam. Tinha uma tribo em Bornéu que achava as músicas cantadas pelos gibões tão bonitas que pensavam que eram elas que faziam o Sol nascer. Quando nós começamos a imitar os ritmos, as melodias e os arranjos dos sons da natureza, criamos a música. E como somos grandes imitadores, incorporamos diversos desses sons naturais em nossa expressão musical. Com o tempo, isso acabou evoluindo para a linguagem humana.

Como o barulho produzido pelo ser humano hoje em dia contribui com essa orquestra?
Hoje, o barulho produzido pelo homem age no som dessa orquestra fazendo com que os animais que estão vocalizando não consigam mais escutar uns aos outros. Quando nós os perturbamos, com a passagem de um avião, por exemplo, os sons se tornam muito caóticos e demoram a se recuperar. As criaturas têm dificuldades para reencontrarem seu nicho sonoro, e isso causa muito stress.

Então os sons naturais são diferentes dos sons urbanos?
A maioria dos sons gerados pelos seres humanos são caóticos e incoerentes. Eles não têm nenhuma informação contida neles. Veja, as paisagens sonoras selvagens se expressam de tal modo que é possível saber imediatamente que toda estrutura sonora está em seu lugar e que o ambiente está saudável. Quando colocamos a gravação de um ambiente desses em um espectrograma — uma representação gráfica dos sons — ele mostra de forma muito clara quais os sons produzidos pelas diferentes espécies de aves, de insetos, mamíferos e anfíbios. É como ler uma partitura musical, onde é possível ver a distinção entre os diversos instrumentos. Nas cidades a paisagem sonora é tão caótica que todo o espaço e tempo estão ocupados por barulho.

O fato de os seres humanos não viverem mais nos ambientes naturais, mas sim nas paisagens urbanas, fez com que ele produzisse um tipo diferente de música?

Sim, a nossa música certamente reflete isso. Hoje, ela é muito autorreferencial. Ela só é capaz de evoluir ao se referir a si mesma. Ela não chega nem perto de ser tão complexa, interessante e original quanto as paisagens sonoras naturais, porque nos afastamos muito delas nos últimos dez séculos. Minha preocupação é que, se continuarmos destruindo os ambientes selvagens, podemos estar acabando com as nossas últimas chances de ouvir essa música natural
 
Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/cultura/grande-orquestra-natureza-761309.shtml?func=2tural.
 

sexta-feira, 1 de maio de 2015

IBAMA DISPONIBILIZA RELATÓRIO DO SISTEMA DOF (PERÍODO 2007 a 2012) PARA SER CONSULTADO ...

Ibama disponibiliza para consulta relatório do sistema DOF
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Brasília (29/04/2015) – O Ibama disponibilizou para consulta o Relatório de Informações do Documento de Origem Florestal (DOF) referente ao período de 2007 a 2012. A publicação apresenta as informações de transporte e consumo de produtos florestais no país ao longo dos anos. O objetivo é facilitar o acesso ao quantitativo de usuários do sistema e às transações efetuadas, nos níveis nacional e internacional, com as espécies mais comercializadas e seus principais usos.
Além de servir para o setor de base florestal do Brasil, o relatório pode ser um instrumento para as instituições de pesquisa, universidades e demais órgãos do governo, para um direcionamento correto das políticas de uso consciente dos produtos florestais. Segundo o material divulgado, o número de usuários aumentou 65% entre os seis anos avaliados.
Levando-se em conta apenas as transações de DOF comum efetivamente concluídas entre remetente e destinatários inscritos no Cadastro Técnico Federal (CTF), o sistema acumula um total de 4,1 milhões de documentos de transporte. Além disso, o produto mais movimentado no país é o carvão vegetal, com 38 milhões de metros de carvão (mdc), seguido por lenha, com 16 milhões de estéreos (st), e tora, com 14 milhões de metros cúbicos (m³).
O sistema DOF possui papel fundamental no monitoramento e no controle da movimentação dos produtos florestais no país. Além de garantir a legalidade da cadeia produtiva, também auxilia no combate ao desmatamento ilegal e agrega e consolida as informações de sistemas de controle estaduais similares.
Para acessar o relatório, clique aqui.
Rodrigo Santori
Ascom/Ibama
Fotos: Ibama
Fonte: IBAMA/MMA