segunda-feira, 28 de junho de 2010

Posição das Organizações de Conservação Ambiental

Caríssimos,

Vira e mexe ouvimos e lemos comentários, em alguns casos acusações, de que o principal motivador das organizações de conservação ambiental, especialmente as que possuem atuação internacional, seria simplesmente defender os interesses dos países desenvolvidos, suas empresas e seus negócios, em detrimento do desenvolvimento do Brasil. Há toda uma "teoria mitológica da conspiração" em torno desse tipo de crítica, da qual o deputado Aldo Rebelo é apenas o mais recente adepto.

Recentemente fui procurado por uma jornalista para opinar sobre uma iniciativa de alguns grupos de representantes do agronegócio dos Estados Unidos, chamada "Farms here, Forests there", que apresenta uma campanha supostamente pintada de verde, mas que na verdade se caracteriza claramente como o mais deslavado "eco-oportunismo". O lema seria algo como "vamos concentrar e intensificar a produção rural aqui nos EUA e deixar que nos países tropicais, Brasil incluído, eles apenas protejam florestas".

Em minha entrevista, mesmo sem conhecer detalhes sobre a tal campanha, eu obviamente desanquei tal iniciativa, por ser um completo absurdo!

Pois bem, eis que agora me chega um posicionamento formal de algumas organizações, o qual está sendo amplamente divulgado por elas pela grande rede. Quero compartilhar o mesmo com os amigos florestais, com os destaques em vermelho de minha autoria, para ajudar a desmistificar certas opiniões que se apresentam como verdades absolutas, mas que não passam de mitos.

É bom para percebermos que, como dizia um amigo meu, peixe é peixe, boi é boi, e peixe-boi é uma outra coisa beeem diferente!

Vejam a mensagem abaixo. Saudações, Beto Mesquita.

Esclarecimento sobre o Relatório "Fazendas Aqui, Florestas Lá - Desmatamento Tropical e Competitividade Norte-americana na Agricultura e na Madeira”, elaborado pela organização Parceiros para o Desmatamento Evitado (Avoided Deforestation Partners’)

As organizações signatárias desta carta reconhecem que colaboraram recentemente com a organização “Parceiros para o Desmatamento Evitado” (Avoided Deforestation Partners) em prol da criação de uma legislação norte-americana de mudanças climáticas, inclusive para que esta tenha incentivos para reduzir o desmatamento tropical. Entretanto, rejeitam a
hipótese de que a conservação da floresta tropical possa constituir uma vantagem competitiva para a agricultura norte-americana frente à concorrência dos países em desenvolvimento no mercado de commodities agrícolas. As organizações não se associam e não endossam as conclusões do relatório, que são de inteira responsabilidade da organização “Parceiros para o Desmatamento Evitado” (Avoided Deforestation Partners).

As organizações signatárias entendem que, para reduzir significativamente ou mesmo interromper o desmatamento das florestas tropicais, será necessário prover incentivos econômicos aos países em desenvolvimento, inclusive aos produtores, para manter a
cobertura florestal nativa. Ao mesmo tempo, deve-se intensificar a produção agrícola em terras já desmatadas e/ou degradadas, bem como a consolidação do manejo florestal sustentável.

No entanto, salientamos que essa estratégia só terá êxito se beneficiar tanto os países tropicais quanto os não tropicais. O relatório "Fazendas Aqui, Florestas Lá - Desmatamento Tropical e Competitividade Americana na Agricultura e na Madeira”, elaborado pela organização Parceiros para o Desmatamento Evitado (Avoided Deforestation Partners’), identificou os benefícios potenciais de tal mecanismo para os produtores norte-americanos, mas não destacou os benefícios para os países tropicais – que podem ser substanciais. Nota-se que o relatório é baseado na suposição, totalmente infundada, de que o desmatamento nos países tropicais poderá ser facilmente interrompido, e suas conclusões são, por conseguinte, igualmente irrealistas.

Diversos estudos científicos comprovam que para reduzir o desmatamento é necessário aumentar a competitividade da produção agrícola fora da fronteira da floresta. Grandes países tropicais contam com grandes áreas rurais subutilizadas onde se deve aumentar a produtividade da agropecuária sem aumentar o desmatamento.

As organizações signatárias reconhecem que a redução das emissões de gases de efeito estufa provenientes do desmatamento das florestas tropicais é fundamental para estabilizar o clima global. Entretanto, tal esforço só fará sentido quando os Estados Unidos – e os países desenvolvidos como um todo -, começarem a reduzir substancialmente
as emissões provenientes de todos os setores da sua economia.

É por esta razão que estas organizações apoiam o estabelecimento de uma legislação norte-americana sobre mudança climática com metas ambiciosas de redução de emissões. Também entendem que estabelecer um mecanismo de incentivos para a redução das emissões resultantes do desmatamento e da degradação florestal poderá colaborar para que o esforço global de redução de emissões de gases de efeito estufa seja rápido e efetivo,
ao mesmo tempo em que beneficia os países tropicais, comunidades locais, os povos da floresta e os agricultores.

Conservação Internacional
Environmental Defense Fund
National Wildlife Federation
The Nature Conservancy

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