As atuais iniciativas de implantação de parques urbanos em Recife permitem antecipar algumas preocupações quanto às funções ambientais que podem desempenhar. A começar pela extensão dessas áreas que, na verdade, assemelham-se mais a praças ou parques de vizinhança, devido aos seus tamanhos reduzidos e limitadas possibilidades de propiciar atividades e vivências em contato com a natureza.
Os projetos de parques recifenses quase sempre contemplam esplanadas pavimentadas, equipamentos de apoio, quadras, quiosques, pistas, estacionamentos, acessos revestidos, brinquedos, gramados e tímidos canteiros. Diante disso, parece evidente que falta para o os mesmo se constituírem em parques de verdade: nas áreas (verdes?) existentes e nas que se anunciam para a cidade, onde estão as árvores? Qual o lugar reservado a elas, nesses ambientes que deveriam ser o seu refúgio preferencial, tão importante para a qualidade de vida urbana?
Onde mais, em uma cidade como Recife, se espera que grandes árvores ofereçam sombra, sensação de tranquilidade, abrigo e alimento à fauna urbana, oportunidades de contemplação do belo e interação com o ambiente natural? Onde mais se poderia observar a riqueza de espécies, outrora exuberante nas matas e restingas que foram destruídas para dar lugar ao crescimento da cidade? Nos antigos quintais, as árvores são rechaçadas para dar lugar a novas construções, ampliações e impermeabilização do solo; nas calçadas, são estropiadas por podas e repelidas por postes, entradas de garagens, estacionamentos e, não raro, pelo temor das pessoas de que aconteçam acidentes (se esse mesmo temor se dirigisse aos veículos automotores, não haveria um só carro circulando nas ruas, dada a probabilidade muito maior de causar acidentes fatais...).
Praças e parques seriam o local ideal para muitas e grandes árvores, árvores da Mata Atlântica, frondosas e exuberantes. Em nada parecidas com os envergonhados canteirinhos de arbustos ornamentais exóticos, de vida curta e cara manutenção. Muito mais belas do que estranhas concepções arquitetônicas com a quais a sociedade é obrigada a conviver, sem direito de opinar. Cheias de significados, as nossas espécies nativas representam a adaptação do meio biológico aos fatores ambientais, traduzindo a história da evolução. Trazem referências culturais, diversidade genética, oportunidade de educação ambiental e de formação para a cidadania.
Diante disso, por que optar pelos parques de pedra e cal? Por que nossos arquitetos e administradores não se mostram sensibilizados e capazes de compreender a beleza da natureza, que assume formas, cores e texturas muito mais ricas, versáteis e harmoniosas do que a limitada criação humana? Por que não aproveitam essa riqueza de possibilidades em seus projetos, por que temem incorporar a pujança da vegetação nativa nas suas pranchetas?
Não tenho essa resposta - sei apenas que estamos construindo uma cidade cada vez mais quente, adensada, que venera o automóvel ao mesmo tempo em que lamenta os engarrafamentos e entende lazer como uma tarde no shopping. Nesse cenário, é possível que parques de pedra e cal pareçam satisfazer as necessidades dos cidadãos. Mas, como será futuro, quando não houver mais um só lugar para as árvores das quais a cidade precisa para se humanizar?
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