terça-feira, 7 de setembro de 2010

ELEIÇÕES - 2010: Uma Breve Reflexão Sobre os Referenciais Amostrais Estatísticos Utilizados Pelos Órgãos de Pesquisa

As pesquisas realizadas pelo IBOPE/TV Globo e pelo Vox Populi/Band/iG divulgadas hoje, 07 de Setembro de 2010, indicaram os seguintes resultados:

A) IBOBE/TV Globo (realizada entre os dias 31 de agosto e 2 de Setembro, levantamento foi realizado por encomenda da TV Globo e do Jornal "O Estado de S. Paulo" e ouviu 3.010 pessoas em 204 municípios brasileiros no período): a candidata do PT, Dilma Rousseff, possui 51% das intenções de voto, seguida pelo candidato do PSDB, José Serra, que aparece com 27% da preferência dos eleitores. Marina Silva, do PV, aparece com 8% das intenções de voto dos brasileiros na pesquisa;
B) Vox Populi / Band / iG (realizada diariamente pelo iG, ouve novos 500 eleitores a cada dia, com amostra totalmente renovada a cada quatro dias, quando são totalizados 2.000 entrevistados): Dilma Rousseff obteve 56% e o tucano José Serra 21% das intenções de voto. A candidata Marina Silva (PV), terceira colocada, manteve-se com 8% das intenções de voto. Brancos e nulos são 4%, indecisos somam 10%, mesmo índice do levantamento do dia anterior, e os outros candidatos têm 1%.
Gostaria de abordar neste momento, no blog, algo que não é de hoje que é debatido no Brasil: o referencial amostral das pesquisas!
Estatisticamente falando, de acordo com objeto a ser pesquisado e às diferentes formas de abordagem, sistemas e processos amostrais a serem utilizados, recomendam-se diferentes percentuais de amostragem a serem usados para que uma amostra possa ser realmente considerada confiável no aspecto de representatividade do universo!
Mas, a realidade é que vemos institutos de pesquisas publicando resultados de pesquisas que são realizadas com (pasmem) 0,00000...de representatividade da população brasileira votante e, sem revelar ao público os parâmetros técnicos (sistemas e processo de amostragem, etc) e as fundamentações científicas usadas!
A realidade ainda se agrava quando ficamos sabendo que, conforme Altamiro Borges relata em seu livro (A Ditadura da Mídia - Ed. Anita Garibaldi), a mídia mundial é dominada por apenas 40 grupos e no Brasil apenas nove famílias dominam 80% dos meios de comunicação!
Acrescentemos a esta realidade o fato de que, conforme relatos do Observatório da Imprensa e da Transparência Brasil “o Senado é a Casa Legislativa brasileira com o maior número proporcional de detentores de concessões de rádio e TV – no total são 23 Senadores, ou 28,4% do total da casa” e, “a maior concentração acontece entre os representantes do Nordeste, dos quais 14 detêm concessões de radiodifusão, correspondendo a 51,9% dos Senadores nordestinos e a 17,2% do total de Senadores do País”!
Estes dados nos revelam que não a toa que governantes socorram empresas de mídia que estão em processo de falência e que os regimes políticos que existiram e existem no mundo (desde os totalitários aos democratas), do seu jeito, procuraram e procuram até hoje, de forma direta ou indireta, em maior ou menor grau, influenciar e controlar as diferentes formas de mídia!
Também não é a toa que os(as) candidatos(as) de partidos políticos menores, de forma justa, reclamem acerca da falta de democracia no que diz respeito ao tempo de exposição na mídia que eles possuem o qual é insignificante quando comparado ao tempo dos grandes partidos políticos!
É importante ressaltar, que também não é de hoje que se sabe dos efeitos dos erros (propositais ou não) e das manipulações das pesquisas de intenções de voto, assim como os seus resultados podem não refletir a realidade e, o mais grave, como podem até servir de manipulação num País como o Brasil cuja população, infelizmente, ainda não mudou o hábito cultural eleitoral de “não votar em quem não tem chance de ganhar para não perder o voto”! Só para citar um fato passado das manipulações e erros dos institutos de pesquisa, quem não se lembra que, em Recife, quando o Ex-Prefeito João Paulo ganhou pela primeira vez para Prefeito, as pesquisas divulgadas pela mídia apontavam Roberto Magalhães como eleito no primeiro turno e com ampla maioria dos votos?
Mas, alguém pode argumentar: sairia muito caro fazer pesquisa como recomenda o “figurino estatisticamente correto”... Porém, respondemos que não, pois os custos estão relacionados com uma boa estratégia de logística, que o diga a experiência do IBGE em relação aos Censos!
Vale ainda salientar que, num País que gasta tanto a fundo perdido com o processo eleitoral e cujos partidos políticos gastam quantias absurdas e astronômicas com propagandas e marqueteiros, com certeza, não sairia caro fazer pesquisa eleitoral eticamente correta, até porque é o dinheiro do(a) cidadão(a) brasileiro(a) que custeia toda esta farra e, assim, já que pagamos as contas, merecemos pelo menos o respeito de não sermos manipulados por interesses sejam eles quais forem, não é mesmo? Logo, se vivemos num regime dito democrático e, se sou eu quem pago as contas, gostaria de ter o direito de ouvir a todos(as) os(as) candidatos(as) e suas propostas de forma igual, algo que só é possível se todos(as) tiverem direito ao mesmo tempo de exposição na mídia, para que assim, então, eu não sofra a violência institucionalizada de tentativa de violação e manipulação de minha consciência crítica seja por quem quer que seja!
Finalizando, não seria, assim, bom, que a sociedade e os poderes constituídos tomassem a iniciativa em corrigir as falhas que apresentamos nestas breves considerações realizadas, falhas estas as quais há tanto tempo a sociedade brasileira reclama? Como um dos exemplos, que tal o IBGE passar a ser o responsável por estas pesquisas ou, então, que tal os institutos de pesquisa ter a obrigação de publicar de forma detalhada as fundamentações e os procedimentos científicos que atestem a seriedade e validade de suas pesquisas?
Aliás, apenas ainda lembrando, não seria bom também, já que vivemos sob o “Regime do Contrato Social”, que os(as) candidatos(as) fossem obrigados a registrarem seus planos de governo com suas propostas em Cartório e, caso não cumprissem suas promessas (parcialmente ou totalmente) sofressem sanções e fossem penalizados com medidas diversas inclusive com a perda do mandato?
Eu não tenho a menor dúvida que estas são algumas das importantes ações que em conjunto com o voto distrital e outras medidas, enquanto não acontecerem, jamais o Brasil avançará para ser, de fato, um País verdadeiramente cada vez mais democrático, como também não tenho dúvida alguma que se tais medidas já existissem os resultados das pesquisas e das eleições poderiam ser bem diferentes!
Também não tenho dúvidas de que os regimes políticos no mundo, sejam eles quais forem, dependendo das atitudes dos(as) cidadãos(as), podem ou não ser como fábulas de faz de conta com diferentes atores e atrizes visíveis e invisíveis, cabendo a nós nos conscientizarmos, pressionarmos e fazermos a nossa parte seja pelo voto consciente, etc, para que, assim, modificações reais e benéficas sejam alcançadas em prol da coletividade humana em todas as dimensões existenciais e, assim, também deixemos de ser crianças seduzidas por contadores(as) e promotores(as) de mundos de faz de conta, ou seja, de fábulas socioeconômicas-políticas...!


Carmem, 07/09/2010.
Socióloga, Eng. Florestal, Msc. em Ciências Florestais com ênfase em Manejo Florestal
Extensionista do Instituto Agronômico de PE (IPA)
Presidente da Associação Nordestina de Eng. Florestais (ANEF)
Membro da Diretoria Executiva do Sindicato de Sociólogos de PE (SINSPE)

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