No começo do mês, o governo americano anunciou,
enfim, sua primeira grande estratégia nacional de combate às emissões de gases
efeito estufa. A investida atraiu críticas vorazes de oposicionistas e
negacionistas do clima. A indústria esbravejou, argumentando que as novas
regras, que incidem sobre termelétricas a carvão, causariam perdas econômicas.
Os ambientalistas julgaram-na tardia, apesar de bem-vinda.
E aí vem a pergunta: por que é tão difícil avançar
no combate às mudanças climáticas? O Nobel da economia Paul Krugman pensou
muito nisso e concluiu que os verdadeiros inimigos do clima vão muito além de
interesses econômicos e influências privadas.
“O que torna a ação racional sobre o clima tão
difícil é outra coisa – uma mistura tóxica de ideologia e anti-intelectualismo”,
afirma Krugman em seu mais recente artigo publicado no jornal americano The New
York Times.
Antes de chegar aí, no entanto, ele faz colocações
importantes sobre o imenso temor à perda de empregos e prejuízos econômicos que
podem advir das restrições às emissões.
“Na década de 1980 os conservadores alegaram que
qualquer tentativa de limitar a chuva ácida podia ter consequências econômicas
devastadoras; na realidade, o sistema de cap-and-trade para o dióxido de
enxofre foi muito bem sucedido a um custo mínimo”, diz.
Ele acrescenta que os estados do Nordeste
americano, que mantém um mercado de carbono bem ativo desde 2009, viram suas
emissões caírem drasticamente, enquanto suas economias cresceram mais
rapidamente do que o resto do país.
“O ambientalismo não é o inimigo do crescimento
econômico”, defende.
Krugman pondera que proteger o meio ambiente impõe,
sim, custos para alguns setores. Mas, esses custos seriam menores do que
costuma-se pensar.
Segundo ele, hoje, se toda a indústria da mineração
e carvão fosse varrida do mapa nos Estados Unidos, o país perderia um dezesseis
avos de 1 por cento do seu total de empregos.
“A verdadeira guerra ao carvão, ou pelo menos aos
trabalhadores de carvão, ocorreu uma geração atrás, travada não por
ambientalistas, mas pela própria indústria do carvão. E os trabalhadores de
carvão perderam”, afirma, referindo-se à queda brusca na quantidade de empregos
no setor por conta de avanços nas técnicas de extração.
“Então, por que a oposição política ao clima é tão
intensa?”, questiona.
“Pense sobre o aquecimento global a partir do ponto
de vista de alguém que cresceu levando Ayn Rand (uma das mais ferozes
defensoras do liberalismo econômico) a sério, acreditando que a busca
desenfreada do auto-interesse é sempre bom e que o governo é sempre o problema,
nunca a solução”, ele escreve.
E continua: “Ao largo disso, alguns cientistas vêm
declarando que a busca irrestrita do interesse próprio irá destruir o mundo, e
que a intervenção do governo é a única resposta. Não importa o quão amigável ao
mercado é a intervenção proposta; este é um desafio direto à visão de mundo
libertário”.
Tal desafio, de acordo com Krugman, inspira
“negação e pura raiva” daqueles que acreditam que a mudança climática provocada
pela ação humana é essencialmente uma conspiração ou um mito.
E o fato de que a ação climática depende de um
consenso científico torna as coisas ainda piores, diz ele, porque pende para o
“anti-intelectualismo que sempre foi uma força poderosa na vida
norte-americana, principalmente no lado direito”.
Assim, conclui Krugman: “O obstáculo real, à medida
que tentamos enfrentar o aquecimento global, é a ideologia econômica reforçada
pela hostilidade à ciência”. Para o Nobel de economia, o mais difícil é superar
o orgulho e a ignorância deliberada. (Fonte: Exame.com)
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