Autor: Ticiane Rossi Publicação: janeiro
29, 2013 Em: Brasil |
Terra Indígena, frutos da Pupunha e ribeirinhos no Rio Uatumã, Amazonas (Cortesia de Eduardo Rizzo Guimarães)
Manejo Florestal Sustentável (MFS) pode ser
definido como uso da floresta para determinado fim, garantindo retorno
econômico, benefício social e ganho ambiental da atividade. No mundo há cerca
de 1,6 bilhões de hectares de florestas que são manejados de forma sustentável,
segundo a Food and Agriculture Organization of United Nations (FAO), dados de
2010.
Em 12 anos de estudo, o engenheiro florestal
Ederson Augusto Zanetti, consultor e ex-pesquisador da Universidade Federal do
Paraná (UFPR), elencou critérios e indicadores em 20 países para poder situar a
Amazônia brasileira no contexto mundial de MFS. Na tese finalizada em 2012,
Ederson concluiu que o Brasil, quando avaliado em sua totalidade, é o primeiro
país do mundo em avanço do MFS.
“[O setor florestal brasileiro] ele é o mais
atrativo do mundo em termos de investimento (…) esse setor tem avançado no
Piauí, no Maranhão, em Tocantins; são estados que têm desenvolvido programas
florestais de suporte à indústria, atração de investimento, geração de emprego
e renda e (…) atraem investimento do mundo inteiro”, explicou Ederson.
Para a Amazônia brasileira, quando avaliada segundo
os critérios e indicadores do estudo, a classificação do MFS na região cai para
7ª colocação. O consultor explica que o fato da legislação regional ser mais
rígida e as alternativas silviculturas de outras regiões do país não poderem
ser usadas na Amazônia causa exclusão social no processo de gestão florestal.
Além disso, Ederson aponta que as tecnologias silviculturais na Amazônia são
“arcaicas”.
“O corte seletivo com regeneração natural mina a
produtividade da florestal, acaba com seu potencial genético”, diz Ederson.
A regeneração natural é uma forma de manejo
florestal que seleciona as árvores de certo diâmetro para corte visando o
aproveitamento da madeira. Entretanto, estas árvores são também fornecedoras de
sementes e promovem variabilidade genética para a floresta. Uma vez que são retiradas,
apenas algumas árvores maiores serão fornecedoras de sementes e a variabilidade
genética é reduzida.
“A gente observa o sucesso das florestas no mundo
inteiro: a grande maioria das plantações florestais é de espécies nativas”,
argumenta.
No Brasil a grande maioria de plantações é de
espécies introduzidas, em sua maioria eucalipto e pinus. Estima-se que estas
duas espécies são plantadas em uma área de 6,5 milhões de hectares distribuídos
em quase todos os estados do país, segundo a Associação Brasileira dos
Produtores de Florestas Plantadas (ABRAF).
É importante salientar que Ederson não nega a
importância do eucalipto como abastecimento de madeira para energia e outras
finalidades, como polpa e papel, mas aponta que é preciso mais investimento em
plantações de florestas nativas no sentido de se chegar ao manejo florestal
sustentável no país.
Valorização socioeconômica na Amazônia
Segundo o estudo, o desenvolvimento do manejo
sustentável da floresta amazônica precisa incluir as pessoas. Não apenas o
ambiente precisa ser o foco, mas a geração de renda da população e inclusão
social nas políticas públicas é parte do processo para que a Amazônia se
desenvolva com o restante do país.
É prioritário o desenvolvimento da educação, saúde
e saneamento básico na Amazônia, aponta Ederson.
“O principal problema [da Amazônia] é a exclusão
social e econômica da região. Não é que a gente não precise cuidar do meio
ambiente, mas esse cuidado ambiental já está muito bem feito. Precisa ter um
cuidado social e econômico agora”, afirma o engenheiro florestal.
Conforme vimos em capítulos anteriores,
o Índice de Desenvolvimento Humano da Amazônia profunda, onde as pessoas vivem
de desmates e queimadas, iguala-se aos piores do planeta.
Ederson afirma que é necessário um desenvolvimento
do mercado e da economia com inclusão social para valorizar a floresta em pé.
“A principal pauta é gerar um mercado forte e
estruturado com inclusão socioeconômica nesse ambiente rico da Amazônia. A
partir do momento que se gera condições para que as pessoas consumam produtos
que venham das florestas tropicais de manejo sustentável e coloca-se esse
dinheiro em funcionamento (…), vai gerar um interesse na continuidade do
cultivo dessas florestas”, diz Ederson.
Mercados que valorizam a floresta em pé
Atualmente há um mercado que valoriza não apenas os
produtos que provém da floresta, como a madeira. É o mercado de serviços
florestais, que incluem a água, biodiversidade, carbono, entre outros. “O maior mercado que existe hoje no mundo é o
mercado de créditos de água – projetos que vão garantir a qualidade de água no
Brasil – isso é muito importante na região da Amazônia (…). A biodiversidade é
o segundo maior mercado. O banco de biodiversidade de florestas tropicais da
Amazônia brasileira pode garantir um fornecimento de material genético de
grande qualidade no futuro. Esse é um dos pontos importantes da gestão desse
território”, diz Ederson.
O mercado do carbono é outro que, segundo Ederson,
é importante, se vinculado com as necessidades da sociedade e incentivo do
mercado de valorização da produção florestal.
“Simplesmente as estratégias de REDD não vão trazer a solução
necessária para implementar o desenvolvimento do manejo sustentável. A produção
madeireira tem que ser incentivada. O consumo de madeira tem que ser
incentivado e deve ser parte integrante dessas políticas de redução de
desmatamento. A redução de desmatamento não é uma função de controle, mas é um
incentivo para o mercado para valorizar a produção florestal e permitir que ela
se mantenha ativa”, conclui.
Fonte:http://www.epochtimes.com.br/desafios-e-caminhos-para-o-manejo-florestal-sustentavel-da-amazonia/, in 30/01/2013
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