As espécies
estão passando por um problema maior do que o estimado, de acordo com um novo
trabalho publicado noProceedings of the
National Academy of Sciences (PNAS),
que reavaliou como os cientistas projetam as taxas de extinção. O novo modelo
leva em conta o impacto da fragmentação florestal sobre as taxas de extinção
pela primeira vez, preenchendo uma lacuna nas estimativas anteriores.
Muitas das
florestas tropicais do mundo, que abrigam a maioria das espécies do mundo,
foram reduzidas a fragmentos: pequenas ilhas de florestas que não se conectam
mais a habitats maiores. Segundo o trabalho, espécies confinadas a fragmentos
têm uma maior probabilidade de desaparecerem.
“Muitas regiões
florestais, tais como a região da Mata Atlântica na América do Sul, têm sido
reduzidas a uma pequena fração de sua extensão original, e essas florestas já
são tipicamente altamente fragmentadas. Nossos resultados sugerem que, nessa
situação, se alguém ignora o efeito da fragmentação, esse alguém provavelmente
subestimará as extinções”, explicou o principal autor, Ilkka Hanski, da
Universidade de Helsinki, ao mongabay.com.
Por décadas,
cientistas usaram um modelo conhecido como relação espécie-área (SAR) para
estimar quantas espécies desaparecem quando habitats são perdidos. Conforme com
a SAR convencional, se 90% de uma floresta for destruída, cerca de metade das
espécies desaparecem, embora leve muitas gerações.
Mas o modelo
apenas observava a área total remanescente, e não se a terra restante era uma
grande mancha ou muitas manchas pequenas desconectadas. Entretanto, algumas
espécies são mais vulneráveis à extinção quando estão em um fragmento de
floresta.
“Para
comunidades de espécies que não são bem adaptadas a viver em paisagens
fragmentadas, a SAR convencional subestima o número de extinções em paisagens
nas quais pouco habitat permanece e é altamente fragmentado”, escreveram Hanski
e seus colegas no relatório do PNAS, acrescentando mais tarde que “a
fragmentação importa quando as populações locais que habitam fragmentos tem um
risco considerável de extinção. Em geral, o risco de extinção aumenta com a
diminuição do tamanho dos fragmentos.”
Os pesquisadores
pegaram então o modelo teórico e aplicaram-no a espécies de aves na Mata
Atlântica, fazendo uma comparação com o mundo real. Atualmente, restam menos de
7% da Mata Atlântica, que já cobriu toda a costa do Brasil. Mas a maior parte
do que resta hoje sobrevive em fragmentos pequenos e desconectados.
“Descobrimos que
quando resta relativamente pouca floresta, digamos, menos de 20% da área total
da paisagem, os números de espécies que se extinguem são aumentados por um alto
grau de fragmentação”, disse Hanski.
Além disso,
quando resta apenas cerca de 10% da paisagem, a maioria dos animais e aves
específicos da floresta não é mais capaz de sobreviver em longo prazo.
Fragmentos florestais também são mais propensos a se prejudicarem com ventos,
incêndios e sobrecaça. Obviamente, a Mata Atlântica não é a única floresta
tropical a sofrer com a alta fragmentação.
No sudeste da
Ásia, florestas tropicais se tornaram fragmentadas devido a plantações de
monocultura tais como óleo de palma, borracha, celulose e papel, assim como à
agricultura e à urbanização. A fragmentação também é um problema e muitas
partes da África, onde a agricultura confinou muitas espécies a pequenas
manchas, especialmente nos litorais e montanhas do leste da África.
Stuart Pimm,
professor de Ecologia da Conservação na Universidade Duke, que não participou
do estudo mas tem feito um trabalho considerável sobre relações espécie-área,
falou ao mongabay.comque concordava com as descobertas
da pesquisa.
“A maioria dos
bolsões de extinção está em paisagens altamente fragmentadas. Temos que
entender o papel da fragmentação na condução da extinção. Sabemos de trabalhos
pioneiros iniciados por Tom Lovejoy na Amazônia, e para os quais meu grupo
contribuiu, que quanto menor o fragmento, mais espécies ele perde e mais
rapidamente ele as perde.”
Pimm afirma que
o trabalho ajuda a levar em consideração espécies que vivem em pequenas
distâncias, ou seja, aqueles animais que sobrevivem em pequenos habitats e,
portanto, estão em maior risco quando as florestas são fragmentadas.
“Sabemos há
muito tempo que as espécies diferem grandemente quando se trata de risco de
extinção. Espécies que vivem em grandes faixas geográficas se saem muito melhor
do que as que vivem em pequenas faixas. [...] É muito mais fácil destruir uma
espécie em uma pequena faixa do que em uma grande”, declara ele. “Então nos
preocupamos muito em mapear onde as espécies de pequenas faixas estão, não
apenas onde a maioria das espécies está.”
O novo estudo
também contribuiu para o debate sobre a extensão da atual crise de extinção.
Cientistas concordam que o mundo está ou no meio ou entrando em uma extinção em
massa com impactos incalculáveis para os ecossistemas do mundo.
Contudo, a
escala imediata da crise e, em particular, a precisão do modelo de relação
espécie-área foi questionada no passado. Em 2011, um trabalho importante
publicado na Nature argumentava que a relação espécie-área havia superestimado
as extinções em até 160%.
Embora o
trabalho, de Fangliang He e Stephen Hubbell, não contestasse que a
biodiversidade da Terra estivesse enfrentando uma extinção em massa,
argumentava que a situação não era tão crítica como tinha sido retratada. No
entanto, imediatamente após a apresentação, o trabalho foi exposto a fortes
críticas de uma ampla gama de cientistas, incluindo Stuart Pimm.
Mas Pimm comenta
que o novo trabalho de Hanski ajuda a “corrigir alguns detalhes importantes” do
estudo de 2011 de He e Hubbell, descobrindo que as taxas de extinção não foram
exageradas, mas sim, subestimadas.
“Acredito que [o
trabalho] está corretíssimo em mostrar que a ‘SAR convencional’ é conservadora;
na verdade, eu esperava isso”, observou Pimm, acrescentando que o estudo é “uma
ligação importantíssima entre o desmatamento, fragmentação, e perda de espécies
[...] Ajuda substancialmente nossa compreensão dos principais processos de
extinção de espécies nas florestas tropicais.”
Entretanto, as
sombrias conclusões do estudo não significam que as espécies nos fragmentos
estejam condenadas; ao contrário, Hanski coloca que o trabalho deveria fazer
com que legisladores sentassem e tomassem nota.
“A fragmentação
importa”, diz ele, “e devemos visar à redução do grau de fragmentação para
aumentar as chances de sobrevivência das espécies específicas de florestas.”
Conservacionistas
há muito tempo defendem conectar os fragmentos florestais através de corredores
que permitam que as espécies se desloquem de um fragmento para outro. Alguns
planos de corredores são simplesmente para reconectar um fragmento florestal a
outro, enquanto outros são mais ambiciosos.
Por exemplo, o
grupo de conservação Panthera propôs o Corredor Jaguar, que conectaria
florestas por toda a América Central e do Sul a fim de conservar esse grande
felino, as presas das quais depende, e milhares de outras espécies.
“Como a
fragmentação é muito comum, e já que os efeitos adversos da fragmentação podem
ser muito drásticos para a sobrevivência das espécies, a conservação deveria
prestar muita atenção à fragmentação”, afirma Hanski.
* Traduzido por Jéssica Lipinski.
** Publicado originalmente no site Mongobay e
retirado do site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)
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